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Rio Fiorita e a venda das nove portas

Estabelecimento comercial que existiu no bairro Rio Fiorita, no então Distrito de Siderópolis, município de Urussanga - SC, no momento auge da mineração do carvão, durante a Segunda Guerra Mundial. O carvão era a fonte principal de energia do qual o Brasil tanto necessitava para impulsionar a economia nacional e, coube à Companhia Siderúrgica Nacional – CSN instalar um enorme complexo minerador no município, arregimentando mão-de-obra de toda a região sul do Estado de Santa Catarina.
Vindos da Cidade de Laguna – SC, os senhores Ascendino, Paulo e Irineu Camilo, deram início ao pequeno comércio, que estaria hoje localizado defronte ao campo de futebol do Itaúna Atlético Clube, do outro lado da estrada de ferro e, extremando a leste com o rio Fiorita, era uma construção ampla feita de madeira com nove portas, ficando conhecida, com o passar do tempo, como a venda de nove portas. Silvio Piacentini acredita que esse estabelecimento tenha iniciado suas atividades com os irmãos Camilo lá por volta de 1945, atendendo inicialmente como uma simples lanchonete produzindo sorvete e picolé, vendendo também tecidos e aviamentos. O objetivo dos lagunenses era abocanhar uma fatia no mercado consumidor, diante de uma explosão repentina de novos moradores no bairro Rio Fiorita, mesmo sabendo que a CSN dispunha de uma bela estrutura de retaguarda para alimentar seus operários, disponibilizando de açougue, padaria e armazém.
Lá pela metade da década de 1950, os irmãos Antonio e José Sangaletti compraram da família Camilo o estabelecimento comercial e, além dos produtos que eram comercializados na venda, passaram a produzir sapatos de forma artesanal, disponibilizando-os para venda aos mineiros. Delírio Giocondo Cesa, natural de Siderópolis, lembra ter comprado, naquela época, alguns pares de sapatos produzidos pelos irmãos Sangaletti.
Como último proprietário da venda de nove portas, o senhor Anildo Carminatti, início de 1970, continuou oferecendo, também, além dos serviços de uma lanchonete, diversos produtos a seus clientes, tais como: tecidos, aviamentos, feijão, açúcar, arroz, farinha de trigo, farinha de mandioca, carne suína, ferramentas em geral, etc.
No ano de 1974, após um período de estiagem, o município de Siderópolis sofreu uma enchente de grandes proporções. A parte leste da venda de nove portas foi levada pelas águas do rio Fiorita. O prejuízo da família Carminatti foi enorme, conforme relato do senhor Valdemir Paulo Carminatti (hoje vereador pelo Partido Progressista (PP) em Siderópolis), quase impossibilitando a continuação dos negócios da família.
Ressalta Valdemir, com indignação, que o estrago provocado na venda de seu irmão surgiu de uma atitude irresponsável do administrador do lavador de carvão da CSN que durante o período de estiagem, a companhia necessitava de água para manter funcionando o lavador de carvão e, para tanto, fez uma barragem para conter os rios Fiorita e Kunts, localizada um pouco abaixo da venda de nove portas, represando as águas e direcionando-as para um “corte” da Marion, bem próximo do lavador de carvão. Imediatamente após a construção dessa barragem, precipitou-se em Siderópolis uma quantidade enorme de chuva, impossibilitando o curso regular das águas dos rios. Esse recurso utilizado pela CSN era de conhecimento dos funcionários da companhia. Após o desastre, muitos que frequentavam o estabelecimento, gerenciado por Antonio Carminatti, mantiveram-se calados em sintonia com a mineradora, obrigando a família Carminatti a construir uma nova sede na margem oposta do rio Fiorita.
Anildo, filho de Antonio Carminatti, declara que muitos dos freqüentadores que, naquele tempo, bebiam e compravam fiado no estabelecimento eram funcionários da CSN e esses relataram o crucial motivo pelo qual o rio arrasou a venda de nove portas muito tempo depois, impossibilitando a família de recorrer judicialmente para se ressarcir dos prejuízos causados pela enchente.

Nilso Dassi
Licenciado e Bacharel em História pela UNESC.
nilsodassi@bol.com.br
Abril - 2009