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Rio Morosini : Uma migração forçada pelo carvão


Rio Morosini, localizado próximo à sede central do município de Treviso, foi ocupado em 1891 por 21 colonos italianos com seus respectivos lotes quando da criação da Colônia de Nova Veneza, formando uma comunidade agrícola, modesta, que foi sobrevivendo de forma autônoma e pacata, tirando seu sustento da terra fértil, da mata virgem esplendorosa cheia de vida e dos rios com suas águas cristalinas.
Quase um século depois, os descendentes dos colonos se deparam com a indústria carbonífera, é o governo federal através da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional solicitando suas terras para minerar o carvão. Foram 165 hectares de terras mineradas pela Marion, um desastre monumental, propiciando lucros para poucas pessoas.
Transcrever a mensagem das famílias, que ainda lutam para se manter na localidade, durante a inauguração da nova capelinha em 1989 é mostrar um desabafo da comunidade pelo crime cometido contra o meio ambiente, em nome do “progresso”. “Em 1978 a comunidade de Rio Morosini era formada por 20 famílias. Atualmente nossa comunidade é formada por sete famílias. Essa evasão, saída das famílias aconteceu devido à chegada da Próspera (subsidiária da CSN) nesta comunidade. As famílias foram obrigadas a vender as terras para a Companhia, deixando sua terra natal sem abrigo, buscando outros lugares para recomeçar suas vidas. Nossa comunidade já não é a mesma, tudo está mudado: o leito do rio não é mais o mesmo; as estradas não percorrem o mesmo caminho, a mata virgem não temos mais, as casas foram destruídas, a capelinha não possui o mesmo chão, tudo está mudado, tudo passou… O lugar onde a gente viveu e cresceu nunca se esquece”. (Jadna de Cássia Rodrigues. Monografia – Pós-Graduação em História Local e Regional. Unesc, 2001).
Na historiografia do município de Treviso, Zeide Carminati de Lorenzi (1991) caracterizou os efeitos da poluição do carvão como uma catástrofe ecológica: “As vertentes que correm cristalinas pelos pastos e bosques de repente desaparecem como num pesadelo cinematográfico. E não é truque, nem armação artística, é a catástrofe da exploração dos bens da natureza sem preocupação ecológica (…). O solo deserto, montanha de terra e pedras, crateras transformadas em profundas lagoas de águas negras comprovam a degradação do meio ambiente. A poluição sacrifica a vida”.
Como herança, ficou um rastro de destruição que jamais será recuperado e um rastilho de saudade que ainda teima em ficar na memória dos mais velhos.


Nilso Dassi
Licenciado e Bacharel em História pela Unesc.
nilsodassi@bol.com.br
Setembro/2008