Para protagonizar o chamado
da sociabilidade e realizar-se humana e estruturalmente, o homem imigrante, no
sul catarinense, empreendeu rituais e cenários para sua entronização entre
florestas, fez-se ator e espectador, numa multiforme objetivação das
circunstâncias de espaço e de tempo em que lhe fosse dado viver. E o homem dos
campos da Seção da Estrada para Urussanga, da Seção Jordão, da Seção Rio
Fiorita, do São Defende, todos do Núcleo Belluno da Colônia Nova Veneza,
naquele início de segunda década do século XX, respeitava o passado na Itália,
preservava a tradição, mas queria personalizar o presente para os seus, para os
que lutavam consigo para o aprazado grande momento, discutido nas casas e na
capela de São João Batista, tornada então uma bela Igreja.
O homem da colônia, por
representantes, já havia feito uma solicitação formal ao Conselho Municipal de
Urussanga para sua transformação em Distrito, e a ratificação do nome do Núcleo
como seu epíteto. Homens como Antonio Remor, de Jordão, o braço-direito do
Reino da Itália como agente consular, sempre em trânsito por todas aquelas
paragens, escutara os anseios dos seus amigos, tornando-se o verdadeiro
artífice do pedido de criação do Distrito de Nova Belluno. Ele era também
Conselheiro do município de Urussanga, e seria protagonista do evento cívico e
histórico de 23 de agosto de 1913.
Com Remor, seguiram, a
cavalo ou de carroça, a pé, como alguns de São Defende e São Geraldo, até a
sede do município, para assistirem a uma sessão histórica, companheiros de luta
diária no campo e na lavoura como Giovanni Pescador, Emilio Adam(e)ante, Giovanni
De Bona Porton, Archangelo Pattel, Serafino
Mezzari, Giuseppe Frasseto, Angelo
Scaldi, Angelo Dal Farra, Jeronymo Feltrin, Giuseppe De Mattia, Hildebrando
Pessi (que depois assumiria como Juiz de Paz), Jordão Costa (do Costão), Giuseppe
Cesa, Angelo Albonico, João Carminati, Celeste Canapini, Antonio Daleffe, Carlos
Fabro, Agustinho Cividini, Stefano Nesi, Francisco Maestrelli, Augusto Savaris,
Giuseppe Quarti, Cesare Manenti, José Coppietti, Arcangelo Feltrin, Luiz
Tomazi, Angelo Bianchini, Silvestro Cecconi (que seria o primeiro cartorário em
Nova Belluno, em 1º de fevereiro de 1917), Luiz Piovesan, Pedro De Col (que
seria o segundo cartorário de Nova Velluno, em 1926), Deffendi Damian, Domingo
Brunatto, Antonio Ferraro, José Luzietti, Lourenço Biz, Flavio Donadel, Antonio
Vendrame, Pedro Coppetti, Domingos Niot, Angelo Pasquali, João Trento, Clemente
Trento, Luigi Possamai, Pedro Falcheti, Luiz Baldesar, José Talamini, Andrea
Tezza, Giacintho Salvador e outros que a história deixou de citar, mas que
sabem o que se passou naquela entrada de noite de inverno calmo.
Naquele 23 de agosto de
1913, uma segunda-feira, às 18 horas, na sexta sessão extraordinária do
Conselho Municipal de Urussanga, na sede da administração municipal, no centro,
foi criado o Distrito de Nova Belluno,
com a aprovação unânime da Lei nº 60,
pelos conselheiros Sebastião Bez Fontana, Jacomo De Brida (sucederia a Lucca
Bez Batti, como Superintendente, em 21 de setembro de 1914), Antonio Remor (um
dos grandes responsáveis pela conquista, e de Jordão – construtor das casas de
pedra daquela localidade) e Stefano Giordani, e com a anuência dos outros
conselheiros titulares e suplentes, como Jacintho De Brida, Attilio Cassol
Bainha, Giuseppe Búrigo, José Peruchi, Antonio Baricchelo (de Nova Treviso) e
Domingos Fontanella (de Nova Belluno). Em seguida, a lei foi sancionada por
Lucca Bez Batti, prefeito (superintendente) de Urussanga.
Na saída da sessão,
aconteceu um foguetório sem precedentes, realizado pelos bellunenses, que foi
contado com orgulho por duas gerações.
Nova Belluno tornava-se
distrito, mas sua história ainda teria momentos não tão gloriosos, mas
lamentáveis, como a supressão e
substituição de seu nome por Siderópolis, ainda como distrito, em 31 de
dezembro de 1943, em ato do então intendente do governo ditatorial no Estado,
Nereu Ramos, pelo decreto-lei estadual nº 941. Nova Belluno deixava de ser um
nome oficial, e tornava-se, até o presente, um estado de espírito, e de raiz de
um povo para tornar-se um ente cultural e histórico para os descendentes
daqueles lutadores de um século atrás.
Parabéns, SIDERÓPOLIS, pelo
Centenário do Distrito de Nova Belluno!