CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL E
HISTÓRIA CULTURAL
RECREIO DO TRABALHOR: UM PATRIMÔNIO
HISTÓRICO
CRICIÚMA, NOVEMBRO 2005
ROSELI TEREZINHA BERNARDO
RECREIO DO
TRABALHADOR: UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Monografia apresentada à
Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC,
para a obtenção do título de especialista em História Cultural
e História Social.
Orientadora: Prof. MSc. Marli de Oliveira
Costa.
CRICIÚMA, NOVEMBRO 2005
Ao meu pai que está
vivo em meu coração, à minha mãe que sempre me espera com um gostoso abraço e
ao meu filho na impaciência de sua adolescência. A eles dedico meu trabalho.
AGRADECIMENTOS
Quando caminhamos acompanhados a distância parece ser menor,
por isso gosto de estar sempre acompanhada por muitos e, durante a realização
deste trabalho não foi diferente, pois estive na companhia da minha família
sempre apoiando, ajudando e compreendendo.
Agradeço a minha mãe Catarina, ao meu filho Rafael, ao meu
marido Aldo, a meus irmãos, sobrinhos, cunhadas, enfim a essa família
maravilhosa que tenho.
Aos meus amigos Rodrigo e jailson que estão comigo desde a
graduação, no qual vivenciamos momentos diversos; de alegria, de tristeza, de
vitória, dentre outros, pois estávamos sempre juntos. As amigas Ana Cristina,
Cristiane, essas mais recentes, porém grandes companheiras.
Agradeço a uma amiga-mãe-irmã “Maria de Fátima Dal Toe de
Oliveira”. Aos professores Carlos Renato Carola, João Henrique Zanelatto,
Antonio Luiz Miranda, Nivaldo Goularte, Lucy Cristina Osteto, que além de
professores foram amigos que deixaram fortes referencias. Não
negligenciando o professor Alcides Goulartti, membro do grupo “Memória e
Cultura do Carvão”, que proporcionou um grande aprendizado.
Agradeço em especial a professora Marli de Oliveira Costa, a
Lili, a quem agradeço como amiga, como orientadora e como referencial de
pesquisadora, de historiadora, pois meu aprendizado e crescimento como
historiadora pesquisadora, tem muito da Lili.
Meu agradecimento a todos vocês.
Os Antigos e a Memória
Os antigos gregos consideravam a memória uma identidade
sobrenatural ou divina: era a deusa
Mnemosyne, mãe das musas, que protegem as artes e a história. A deusa memória
dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembra-lo para a
coletividade. Tinha o poder de conferir imortalidade aos mortais, pois quando o
artista ou historiador registra em suas obras a fisionomia, os gestos, os atos,
os efeitos e as palavras de um humano, este nunca será esquecido e, por isso,
tornando-se memorável, não morrerá jamais.
Marilena Chauí, 1998.
RESUMO
O trabalho que
segue objetiva dar visibilidade e sensibilizar para a preservação de um
patrimônio histórico chamado Recreio do Trabalhador, uma sede recreativa que
fez parte na formação de uma comunidade identificada como operários mineiros da
Companhia Siderúrgica Nacional- CSN, em Rio Fiorita localizado em Siderópolis-SC. Assim
como a preservação desse patrimônio material, se faz necessário à preservação
de um bem imaterial, a memória coletiva,
da comunidade do Rio Fiorita sobre a memória do lazer. A utilização da
fonte oral, da pesquisa em documentos e em fotografias, foram de grande
importância na realização do trabalho, pois possibilitou a identificação e a
problematização dos diferentes lazeres ali desenvolvidos, permitindo a visualização das formas de controle e
preconceito existente nessa Vila operária. No entanto as pessoas colocaram
nessas atividades seu jeito de viver e conviver, se apropriaram do que lhes era
imposto, e desenvolveram formas de lazer acessíveis para todos os moradores da
vila.
Palavras-chave:: Patrimônio; preservação; memória; lazer.
SUMÁRIO
3 O RECREIO NO COTIDIANO DA VILA
OPERÁRIA.............................................31
3.1 Lazer, Transgressões e
Imposições....................................................................31
3.2 O Recreio do Trabalhador como espaço de controle
na vila operária................32
3.3 Preconceito no espaço de
sociabilidade.............................................................36
3.4 No espaço
cultural...............................................................................................38
3.5 No interior do Recreio
acontecia..........................................................................40
CONSIDERAÇOES
FINAIS.......................................................................................50
REFERENCIAS..........................................................................................................52
1 INTRODUÇÃO
A
sociedade transforma-se pelo emaranhado de várias relações: culturais,
econômicas e sociais. Os sujeitos históricos agem sobre seu cotidiano por meio
de ações que geram transformações lentas e constantes, muitas vezes imperceptíveis
e aceitas como natural. O historiador
atento a essas transformações, procura intervir nessa ação humana, alertando
para a necessidade de preservação de referenciais do passado, corporificado em
construções materiais ou repassado por gerações por meio da oralidade,
constituindo-se em construções imateriais, que não traduzem a ideologia de uma
elite.
Neste sentido, a preocupação com essa
preservação, objetiva garantir a continuidade de grupos sociais que ficaram
invisíveis na história oficial, possibilitando a visibilidade da ação desses
grupos que nela atuaram.
Portanto, instigada pelo desejo de
sensibilizar para a preservação de um evocador de fragmentos de tantas
memórias, motivei-me a pesquisar o “Recreio do Trabalhador”, na vila operaria
mineira da CSN, pois os habitantes desta vila produziram práticas cotidianas
que foram faladas, apontadas, censuradas, elogiadas, assim como foram
partícipes de um período em que o país caminhava para o desenvolvimento da
indústria brasileira. Essas práticas cotidianas guardadas na memória da
comunidade emergiram a tona no transcorrer do trabalho realizado.
Entretanto, a escolha o Recreio do
Trabalhador como objeto de pesquisa foi também por considerar a relevância do
mesmo dentro do contexto da Vila Operária Mineira da CSN, pois esse local foi
testemunho de momentos de troca, de convivência, de experiência, de aprendizado
e ficou por um longo período “invisível” dentro da vila operária, passando
despercebido pelo poder público local, evidenciando o descaso com a memória de
uma população que ali se constituiu.
Diante desse contexto, a proposta deste
trabalho é oferecer visibilidade a um patrimônio material que está cristalizado
na memória dessa comunidade, que se reconhece neste local e que foi parte de um
cotidiano constituído e vivenciado a partir da instalação da empresa estatal na
década de 1940.
A pesquisa foi delimitada no período
entre as décadas de 1941-1989, sendo que por meio de estudos já realizados,
este tempo delimitado estará contemplando o período em que as atividades da Cia
estavam iniciando no antigo distrito de Belluno, atualmente o município de
Siderópolis e também, o período em que a mesma estava paralisando suas
atividades neste local.
A pesquisa
foi realizada por meio de fontes escritas, por meio da pesquisa bibliográfica,
com leituras e fichamento das mesmas; fontes orais, utilizando-se de
entrevistas com antigos moradores que lá permanecem até os dias de hoje, como
também aqueles que já não moram mais no local; fontes fotográficas, procurando
reconhecer nas fotos as falas dos entrevistados e também com a visita no local
onde está construído o Recreio do Trabalhador.
Neste
sentido, para a elaboração do trabalho se fez necessário à utilização de
referenciais teóricos que concebessem um novo olhar sobre a história, o que
direciona esse trabalho de pesquisa numa perspectiva voltada para a nova
história, pois nesta perspectiva permite-se que as vozes que por muito tempo
não tiveram a oportunidade de se fazer ouvir conseguissem se manifestar.
Desta forma a base teórica da pesquisa esta pautada
em autores que discutem não apenas o viés econômico, religioso, político e
militar, de uma dada sociedade para contar sua história, e sim categorias como
o cotidiano e a memória que permitem tornar visíveis práticas produzidas por
diversos sujeitos históricos. Portanto,
a investigação tornou possível a percepção das formas de sociabilidade que se
desenvolveram na comunidade estudada.
Neste sentido, com vistas à explanação do trabalho, a
presente pesquisa encontra-se dividida em três capítulos, o primeiro é
introdutório e discorre sobre as considerações do trabalho e da pesquisa
realizada.
O segundo capítulo apresenta uma discussão sobre a
preservação do patrimônio histórico, de como se pensou a preservação de locais
que serviram de referenciais em determinados períodos da história do Brasil, da
preocupação atual de estudiosos com a preservação não apenas do patrimônio
material (de pedra e cal), mas também do imaterial (saberes, costumes,
rituais), da importância de se preservar a memória e da sua representação para
o ser humano. Além desta discussão esse capítulo oferece ao leitor uma
descrição detalhada da parte física do Recreio do Trabalhador, pois no período
pesquisado essa construção se diferencia das demais pelo seu estilo
arquitetônico, e pela localização geográfica. Outra discussão deste segmento
centra-se na formação de espaços de lazer, formas de lazer e do uso destes
espaços nas vilas operárias do Brasil em períodos anteriores, relacionando-os
com a vila operária da CSN.
O terceiro capítulo procura dar visibilidade às
manifestações culturais produzidas na vila por seus habitantes e pela empresa
mineradora, assim como a utilização do Recreio do Trabalhador como espaço de
controle das famílias operárias. Essa discussão, respaldada em referenciais
teóricos, permitiu perceber que determinadas práticas, utilizadas na vila
operária da CSN, para a disciplina do operário foram encontradas em vilas
operárias da cidade de São Paulo, sendo que as formas de preconceito, as
transgressões, as imposições ocorridas nos espaços de lazer também estão
contempladas nesse capitulo.
Neste sentido, pesquisar esse espaço de convívio
social foi perceber a importância que ele adquiriu para as famílias daquela
vila operária, foi encontrar diversas formas de lazer que foram sucumbidas pelo
tempo e que permaneceram na memória de um grupo, foi perceber as lembranças
revividas quando em contato com o evocador de memória, pois desta forma
pretende-se justificar e sensibilizar para a necessidade de preservar como
patrimônio histórico esse espaço guardião de recordações, o Recreio do
Trabalhador.
2 MEMÓRIA
E PATRIMÔNIO HISTÓRICO.
Com vistas à explanação da pesquisa o
presente capítulo discute sobre o patrimônio histórico cultural e dentro deste
busca evidenciar os guardiões de identidades que por meio de suas memórias
destacam o Recreio do Trabalhador e sua arquitetura e a criação e utilização
deste espaço.
2.1 Guardiões de Identidades
A idéia de preservação do patrimônio
histórico tornou-se mais significativa no Brasil durante o século XX,
entretanto na Europa esse movimento de preservação do patrimônio histórico foi
iniciado em meados do século XIX. Nos dois momentos, pensou-se na preservação
de bens materiais que tivessem significativa relação com alguns fatos
históricos determinados pela historiografia oficial. Neste sentido, a idéia
seria a preservação de construções materiais que dariam legitimidade às
construções históricas de uma parcela da sociedade, ou seja, “(...) trataram de
cristalizar uma memória que reside em poucos lugares e pertencem a muitos
poucos” [1].
Dessa forma, pode-se afirmar que se
preservou a Casa Grande, mas não se cogitou a preservação da Senzala, porque na
história oficial o personagem escravo não tinha visibilidade, não tinha
história e conseqüentemente não poderia ter um ícone representativo.
A história oficial ganhou maior
visibilidade e legitimidade a partir da criação do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – na década de 1930, no governo de
Getulio Vargas. Este governo entre outras ações priorizou a identificação e a
formação da brasilidade, do ser brasileiro, assim como consolidação de
elementos que pudessem dar sentido de ser “brasileiro”. Portanto, houve a ação
direta do Estado na formação da brasilidade através da imposição de ideais
nacionalistas.
Neste contexto, de acordo com Myrian
Sepúlveda dos Santos [2] encontra-se que:
(...) pensou-se na preservação do patrimônio
cultural da nação. Mas a “cultura estadonovista” excluiu a representação mais
ampla da sociedade em favor de uma política de patrimônio vigiada, controlada e
regida pelos valores dos setores dominantes que se aglutinaram no poder.
Pode-se
inferir então, que a historia oficial teria assegurado sua continuidade e
legitimidade.
Maria Clementina Pereira Cunha demonstra sua
preocupação quando diz que o Brasil é “(...) um país obcecado pelo moderno
(...)”, e que essa busca pela modernização vai se refletir na construção de
órgãos públicos de proteção ao patrimônio histórico. No entanto, esta
preocupação em preservar o patrimônio estava intrínseca na legitimação de um
passado “de glória” de uma elite brasileira, ou como diz Clementina “(...) para
afirmar o triunfo daquilo que se auto-intitulava como novo”.
Marilena Chauí [3] também observa com preocupação as propostas de
órgãos de esfera federal e estadual de preservação do patrimônio histórico,
pois entende que o cidadão comum talvez não se reconhecesse naquela “identidade
e símbolos celebrativos”.
Nesta direção, José Ricardo Oria Fernandes[4] também entende que na sociedade moderna, o homem
ainda não conseguiu um equilíbrio entre o progresso e a preservação do passado;
passado esse cheio de significados culturais para futuras gerações. Sendo
assim, em nome do que é moderno, destrói-se um passado que poderia servir de
referência para a construção do presente e futuro.
(...) todo
cidadão tem direito à cultura, a memória coletiva e ao passado histórico. A
memória social ou coletiva, evidenciada através dos registros, vestígios e
fragmentos do passado – os chamados bens culturais de uma dada
coletividade-constitui-se em referencial de nossa identidade cultural e
instrumento possibilitador do exercício da plena cidadania. [5]
É
com satisfação que se percebe várias pesquisas preocupando-se com a categoria
do patrimônio, pois estas falam da necessidade da preservação dos bens
culturais que foram parte de uma coletividade, não apenas das elites, mas
também de grupos que ficaram por muito tempo a margem da história oficial.
Neste
contexto, José Ricardo Santos Gonçalves[6],
fala no caráter milenar da categoria patrimônio:
(...) ela
não é simplesmente uma invenção moderna. Está presente no mundo clássico e na
Idade Média, sendo que a modernidade ocidental apenas impõe contornos semânticos
específicos que, assumidos por ela, podemos dizer que a categoria “patrimônio”
também se faz presente nas sociedades tribais. E completa (...) estamos diante
de uma categoria de pensamento extremamente importante para a vida social e
mental de qualquer coletividade humana.
Apoiando-se
nesses estudiosos entende-se que se faz necessário o desenvolvimento de uma
consciência preservacionista de locais de memória, enquanto referencial de
nossa identidade, pois segundo Myriam Santos[7], em
referência ao filme Blade Runner, no qual os andróides não satisfeitos
com a forma corporal humana perseguiam aquilo que lhes dariam a humanização
plena, ou seja, a memória, a capacidade de recordação, pois o que os
diferenciava dos seres humanos era ausência da memória, argumentando então que
a memória seria a sustentação de nossa condição de ser humano.
Diante
desses expostos, o Recreio do Trabalhador, objeto de estudo desta pesquisa,
está localizado em Rio
Fiorita , no município de Siderópolis, Sul do Estado de SC,
numa área onde foi construído todo o complexo da Companhia Siderúrgica
Nacional, ou seja, o escritório central, a farmácia, o ambulatório, a padaria,
o açougue, o armazém, o estádio de futebol Eng. Mozart Vieira, e ainda o local
no qual foram instalados a oficina mecânica, e o transporte, configurando-se na
Vila de Operária Mineira da CSN[8].
Observe-se
as figuras abaixo que compreendiam o complexo:
Fonte: Arquivo
Histórico de Tubarão
Fonte: Arquivo
Histórico de Tubarão
2.2 O Recreio
e sua Arquitetura
O Recreio do Trabalhador pode ser visto como uma
construção que se diferenciava das demais construções pela sua imponência,
visto que na “Vila Operária” as casas eram de madeira e sua arquitetura não
possuía traços exuberantes.
Atualmente, a parte externa é toda revestida de uma
textura de gesso decorada, e parte do prédio teve sua cor modificada
recentemente, no mês de abril do ano de 2005, sendo que a cor original era
branca, na parte dos fundos ainda mantém essa tonalidade.
O seu interior pode ser descrito da seguinte forma: [9] O salão principal mantém a pintura original branco
com detalhes em azul, o teto de madeira é formado por retângulos. Nas laterais
do forro, as madeiras tipo costaneira envernizada compõem um outro trabalho de
ornamento. Em uma das laterais, bem no alto perto do teto, existem aberturas
utilizadas para a projeção de filmes.
Neste salão há um palco em madeira trabalhada, de
formato ondulado que ainda apresenta as características de sua construção
original. Um alçapão no chão, indica a entrada para os artistas que pisaram
naquele palco. Há vestígios da iluminação e do som, já bem danificados. Nas
janelas de vidros quadriculadas se observam os detalhes que acompanham o forro.
A construção apresenta no todo dez janelas de vidro e
uma porta lateral também de vidro. No hall de acesso ao salão principal
encontra-se o teto de madeira envernizada que traz no centro uma figura
geométrica em formato oitavado, ou seja, com oito lados. O recreio do
Trabalhador possui dois banheiros, um masculino e um feminino e uma escadaria
em forma de caracol que dá acesso a parte superior onde eram projetados os
filmes.
O bar é composto de um balcão em forma curvada, onde
se misturam tijolos e madeira trabalhada, e na base é de azulejos na tonalidade
verde escuro com brilho. Seu teto em madeira envernizada também é decorado. Na
parede prateleiras de concreto sustentam vários troféus, alguns bem antigos,
dos anos de 1944, 1952, entre outros.
Numa outra sala, localizada entre o bar e uma das
entradas da lateral, o teto e a metade
das paredes são decorados, sendo que a decoração de madeira de costaneira
envernizada dá volume a parede. O teto possui a decoração semelhante, a do
salão principal, mas o que o diferencia é a ausência de figuras geométricas.
Torna-se interessante ressaltar que em cada peça a
decoração se diferencia no estilo; na percepção desta pesquisadora, algumas das decorações deixavam o ambiente mais sofisticado
que outras, sendo que esta percepção tornou-se mais evidente no cômodo onde
está localizado o bar.
Na sala de jogos, cinco ao todo, não foi possível o
acesso por que o clube está passando por reformas e este lado estava fechado,
entretanto foi possível visualizar através das janelas e porta que nestas salas
o forro não tinha detalhes. É um forro comum, sem decoração, de madeira pintada
de branco.
Salienta-se que esse local de memória foi
representativo na vila operária porque seus habitantes o entendiam como
preocupação da empresa com seu conforto e bem estar. As lembranças do senhor
Gilson Martins, além de evidenciar essas representações, mostram que a
construção física do Recreio do Trabalhador foi acompanhada com entusiasmo e
expectativa por parte dos moradores, no qual muitos se sentiam orgulhosos em
ver e pensar naquela construção como parte de suas vivências.
2.3 Criação e Uso do Espaço
O “Recreio do Trabalhador” foi
fundado como clube recreativo no dia 4 de dezembro de 1952, e sua construção
física é posterior, consolidando-se no ano de 1954. Como consta na Ata de
fundação do clube, essa associação era um pedido dos funcionários da Cia e também
um desejo da administração da mesma, sendo que se direcionava a objetivos
esportivos, sociais e culturais e “(...) oferecer aos seus associados tudo
aquilo que é indispensável neste setor da vida, especialmente na cidade de
Siderópolis”.
Anterior a constituição do Recreio como espaço de
lazer dos funcionários da Cia, existiam cinco clubes recreativos na Vila. Eram
eles: G.E. Vera Cruz, SER União Mineira, Sul Catarinense FC, Clube Atlético
Siderúrgica, Sider Club Siderópolis, todos com a diretoria composta por
empregados da Companhia Siderúrgica Nacional, e que recebiam verba de
manutenção da Cia.
Entende-se, então que o Recreio do Trabalhador
constitui-se como um patrimônio material de uma comunidade que se formou a
partir da instalação da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN na década de 1940,
e que foi parte da vivência de gerações de homens, mulheres e crianças que
utilizavam suas dependências nos mais variados momentos de seu cotidiano.
Neste contexto, o Recreio do Trabalhador constitui-se
num patrimônio que serve como evocador da memória para pessoas que o
freqüentaram, sendo que as lembranças daqueles que moraram ou ainda moram na
comunidade de Rio Fiorita estão enraizadas
neste que foi um espaço de sociabilidade, de troca, de experiências.
Este exposto respalda-se nas idéias de Maurice
Halbwachs [10] quando argumenta que necessitamos da memória de
outras pessoas tanto para confirmar nossas próprias recordações como para dar a
ela legitimidade. Mesmo que o ato de
lembrar possa ser pensado como a reconstrução no presente de experiências que
foram vivenciadas anteriormente, de forma afetiva, ou seja, onde o sujeito se
coloca como parte daquela memória.
Entretanto, a memória é muito mais que um ato de lembrar e segundo Pierre
Nora[11]:
A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos, (...) ela está em
permanente evolução, aberta a dialética da lembrança e do esquecimento, (...) a
memória não se acomoda a detalhes que a confortam, ela se alimenta de
lembranças vagas (...) a memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto,
na imagem, no objeto.
Pierre Nora mostrou também sua
preocupação com o que ele chamou de aceleração da história, pois segundo o
autor, “nas sociedades antigas as pessoas viviam a memória ao repetir atos e
sentidos e desta forma não necessitavam de lugares de memória”.
Neste sentido, os lugares de memória
que aparecem na fala de Pierre Nora seriam os locais onde se cristalizariam um
arsenal de evocadores, gerando, dessa forma, visibilidade a memória de grupos
que já não existissem mais, sendo que o autor ainda lamenta: “se habitássemos
ainda nossa memória, não teríamos necessidade de lhe consagrar lugares”.
Com relação ao papel da história em
relacionado à memória, Pierre Nora pontua que “no coração
da história trabalha um criticismo destruidor de memória espontânea, pois a
memória é sempre suspeita para a história, cuja verdadeira missão é destruí-la
e a repelir configurando-se na desligitimação do passado vivido”.[12]
Entretanto,
ressalta-se é necessário narrar a história e para isso é necessário
dessacralizar a memória, pois a memória é absoluta, somente com a intervenção
do historiador é que ela se torna história. É, portanto, no momento que o
historiador problematiza a memória que ela se torna história. Sendo através da história que se pode
entender o ato de preservar. Por isso é necessário Preservar aquilo que serve
de evocadores da memória para uma determinada sociedade.
Como citado anteriormente, a fusão, ou seja, a união desses clubes que
havia na cidade, segundo consta na ata de formação do clube, deu-se por
solicitação dos empregados, desejosos de ter um clube que agregasse a todos,
assim como também era um desejo dos diretores da Cia.
Pode-se
pensar nessa fusão, como sendo uma forma de controle da Cia sobre seus empregados,
afinal controlar os operários em cinco sedes recreativas era muito mais
difícil, do que se fossem concentrados em um local. Desta forma colocou-se a
disposição das famílias mineiras um espaço de lazer, com atividades
recreativas, e sociais, que garantiria a ocupação do tempo livre em
atividades denominadas “saudáveis”.
Isso pode
ser evidenciado no pensamento de Maria Auxiliadora D’ Decca”,[13] que
analisou a situação do operário em
São Paulo nos anos de 1920-1930, estudo no qual percebeu o
surgimento de iniciativas de “disciplinar o lazer”, sendo que para ela, o lazer
disciplinado era traduzido “(...) no patrocínio do futebol pela empresa, ou
através de festas religiosas, procissões, romarias”, todas de forma organizada.
Neste
contexto, Maria Auxiliadora D’ Decca afirma: “a disciplina do lazer (...) foi
buscada pelos poderes públicos de forma idealizadora nos cuidados formativos
com a criança, principalmente a dos meios operários”.
Denise Bernuzzi de Sant’Ana[14], em sua publicação, coloca que “Determinadas noticias de jornais
expressam o receio da reversão do tempo livre num tempo de algum modo
pernicioso à sociedade, caso ele viesse se tornar maior que o tempo de trabalho
sem os cuidados necessários”. Neste contexto a autora descreve a notícia
publicada no jornal Correio da Manhã, editado no Rio de Janeiro nos anos de
1970, que assim se manifesta:
(...) a sociedade futura estaria composta quase totalmente de hippies,
vistos como pessoas entregues ao uso de drogas – conseqüência provável da
ociosidade – renunciando às estruturas sociais mais elementares como as
convenções na maneira de vestir, a manutenção do “casal como base da sociedade,
a diferenciação sexual. [15]
Sendo assim, os capitalistas buscaram estabelecer uma
forma de controle desse tempo disponível, pois os meios operários, isto é, os
locais onde os operários se encontravam depois do trabalho, eram vistos como
“focos de agitação e revolta social”, [16] pelos donos das fábricas e
indústrias.
Portanto, a prática de construir local de lazer nas
vilas operárias não foi apenas uma peculiaridade da Cia Siderúrgica Nacional,
foi o seguimento do modelo europeu nas vilas de industrialização, porque no
Velho Mundo a massa trabalhadora havia tomado consciência de sua situação de
exploração com jornada de trabalho extensa. Então, por meio de fortes
movimentos sociais conseguiram uma lenta, mas constante diminuição das horas de
trabalho. Com isso surge frente ao tempo de trabalho, um tempo excedente,
definido como tempo disponível do trabalho[17].
Neste sentido, a Cia Siderúrgica Nacional seguiu o
“modelo de poder e controle que emergiam pontual e inconsciente, no interior da
sociedade capitalista visando conformar o operariado à ordem burguesa”.[18]
Ao analisar o cotidiano do operário fora do local de
trabalho em São Paulo
nas décadas 1920-1930 Maria Auxiliadora Guzzo Decca, afirma que: “nos bairros
operários as diversões da população (...) eram cinema, futebol, baile e o
teatro amador”.[19]
Essa referência remete a visão do cotidiano da Vila
Operária mineira em Siderópolis, pois se percebe algumas semelhanças com os
modelos das vilas operárias do maior centro urbano do país, nos quais
encontrava-se como diversão: o cinema, o futebol, o baile e o teatro amador
também nesses espaços.
Por conseguinte, no tempo disponível do trabalho, que
se traduz no final do expediente, o operário mineiro utilizava o Recreio do
Trabalhador para uma partida de dama, dominó, ping pong, snoocker,
ou então para leitura na biblioteca do clube, sendo que nos domingos ou
feriados, era então o momento em que se assistia e torcia uma partida de
futebol no estádio, sendo que nestes dias também se freqüentava o Recreio para
assistir o cinema, o teatro, ou participar dos bailes.
Todas estas especificidades são ilustradas de maneira
mais evidente nas figuras que seguem abaixo, observe-se:
fonte: Arquivo Histórico de Tubarão
Fonte: arquivo do
autor
Fonte: arquivo do
autor
Observação: na figura 06, a cor original da parede
era branca no salão principal, porém após a visita no local em julho de 2005,
parte da cor original foi modificada.
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do
autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
Fonte: Arquivo do autor
3 O RECREIO NO COTIDIANO DA VILA OPERÁRIA
O presente capítulo segue discorrendo a cerca das questões que envolvem a
comunidade da vila operária e do Recreio do Trabalhador, destacando o lazer, as
transgressões e as imposições e o preconceito neste espaço social e cultural e
um último segmento denominado no Recreio acontecia, que evidencia as memórias
da vila operária.
3.1 Lazer, Transgressões e Imposições.
No conjunto de bens culturais produzidos por homens e
mulheres de diversas faixas etárias e culturas diferentes, o espaço físico de
uma construção pode constituir-se como testemunho na formação da memória
histórica e na formação da identidade de uma comunidade.
Desta forma o local é testemunho sedimentado e
acumulado dos modos de vida, não só daqueles que o conceberam, mas também dos
que ali viveram através dos tempos e lhe conferiram usos e significados.
Neste contexto o Recreio do Trabalhador é um desses
espaços, pois está carregado de sentimentos, de lembranças de atividades ali
vivenciadas. Atividades cotidianas como eventos culturais e sociais que ocorriam
periodicamente, ou então jogos de ping pong, dominó ou xadrez.
Além de diferente na aparência, como foi apontado no
primeiro capítulo, o recreio se estabelecia como lugar de lazer, visto que os
demais locais do complexo da CSN que haviam sido construídos na vila operária
eram locais de trabalho. Mas, como se constituiu ou se inventou o lazer nas
vilas operárias? O lazer era intrínseco ao cotidiano na vila?
Para discutir o lazer e cotidiano, houve a
necessidade de dialogar com alguns autores que escrevem dentro de uma
perspectiva da nova história cultural. Nessa perspectiva teórica Mafessolini[20] afirma que; “a vida cotidiana se dá numa relação de
aparência”, Sendo o cotidiano um espaço de convivência diária dos operários
mineiros, por isso salienta-se que nessas relações de sociabilidade, a “relação
de aparência” que Mafessolini fala venha se manifestar.
Outras questões são levantadas por Mafessolini, como
a idéia colocada por ele de que “cria-se uma arte de viver que têm como centro
a distância que permite o jogo duplo”. Entretanto, será que a concepção de jogo
duplo permeava as relações entre operários mineiros e empresa mineradora
estatal?
Para responder esta questão, salienta-se que além do
jogo duplo, o autor também fala também em astúcia. Para esse
termo ele coloca como sendo “o resultado das atitudes e das situações
cotidianas” pois ao lado daquele que transgride pode estar aquele que se
conforma. Entendendo esse “conformismo” como tática, astúcia, pois o autor,
diz:
Vemos nascer
uma série de práticas originais nas quais de maneira “fluida” e sem
agitação,cada individuo assegurar a soberania sobre sua própria vida. é, portanto, na reduplicação, na
pluralidade, que se situa a resistência e não no choque frontal.
3.2 O Recreio do Trabalhador como espaço de controle
na vila operária.
A construção
de sedes recreativas foi comum nas vilas operárias mineiras, assim como foram
comuns em vilas operárias direcionadas a outras atividades econômicas,
diferentes da mineração. Maria Auxiliadora Guzzo de Decca[21] em seu estudo já mencionado anteriormente, afirma
que “os meios operários foram vistos por instituições e grupos dirigentes,
desde os fins do século XIX, como extremamente perniciosos para a ”moral e
disciplina do trabalho” “(...). Hábitos operários no escasso tempo de lazer
eram considerados vícios e a recreação do operariado era considerada
“improdutiva”.
Desta forma Maria Auxiliadora pontua que “(...)
edificaram todo um sistema destinado à recreação de quem era necessário reter e
controlar na produção”. Sendo assim, além de necessário reter e controlar a mão
de obra operária era preciso um controle nas formas de lazer que esse
operariado desenvolvia. Então na busca desse controle, os capitalistas
legitimaram toda “uma retórica (...) de ”um lazer mais saudável e produtivo”
para o operariado no sentido de torná-lo mais “disciplinado e ordeiro”.
Nesta direção, a autora descreve as tentativas de
“disciplinar o lazer“, sendo possível perceber em sua descrição questões
presentes ao objeto de estudo (o Recreio do Trabalhador) como o patrocínio no
futebol, ou seja, a empresa respaldava a formação de time de futebol de várzea
com a participação dos operários, pois essa tática ocorria também na vila
operária da Companhia Siderúrgica Nacional.
Neste sentido argumenta-se que a construção do
Recreio ocorreu dois anos após a formação do “Itaúna Atlético clube” – IAC –
este time de futebol disputava campeonatos regionais, portanto, dentro das
colocações de Maria Auxiliadora, pode-se
inferir que o futebol foi uma forma
utilizada pela Companhia de disciplinar o lazer e que a construção do Recreio
como sede recreativa foi uma forma de controlar, impor regras, moralidade, bons
costumes, não somente aos operários, mas também a sua família.
Nessa direção emerge Michel Foucault [22], que aponta como “instituições de normas, a
naturalização de verdades, as construções dentro das normas, que a verdade é
colocada não no objeto, mas sobre ele”.
O Recreio do Trabalhador abrigava um salão principal
onde se realizavam os bailes, salas de jogos, biblioteca, restaurante, e o bar.
O bar do clube que funcionava diariamente era o local de encontro dos operários
após o expediente da Companhia. Lá eles discutiam sobre o trabalho, futebol, as
condições de vida, as novidades da vila, e também combinavam a “boca pequena” a
ida na “zona do meretrício” da cidade vizinha, espaço visto como pecaminoso.
Os operários transgrediam as normas estabelecidas, e
tinham consciência disto, portanto utilizavam táticas de resistência que não se
constituíam em choque frontal, pois a prática de freqüentar a “zona do
meretrício” foi encontrada em outras vilas operárias da região carbonífera,
como sugere o estudo da historiadora Marli de Oliveira Costa[23].
Em seu estudo, Marli de Oliveira Costa, aponta que em
Criciúma, na Vila Operária da Próspera “As mulheres dos mineiros apelavam para
a autoridade do padre para poder controlar o comportamento dos maridos”.
Isso vêm demonstrar, nesses locais de lazer o
preconceito de uma sociedade que rotulava, apontava e punia aquele que não se
“enquadrasse” no “padrão estabelecido” por essa sociedade que vigiava atos e
ações dos indivíduos. Margareth Rago[24], nesta mesma direção, analisando o espaço das vilas
operárias de São Paulo coloca que nessas vilas “(...) estabelece-se todo um
código de condutas que persegue o trabalhador em todos os espaços de
sociabilidade, do trabalho ao lazer”.
Dessa forma salienta-se que no Recreio do Trabalhador
a condutas dos indivíduos, mais especificadamente das mulheres, era vigiada
para julgar ou condenar determinados comportamentos.
3.3 Preconceito no espaço de sociabilidade.
No entanto, o preconceito da sociedade não se
limitava àquele que estava fora do enquadramento de padrões estabelecidos.
Outra prática preconceituosa foi a da divisão étnica. Essa divisão não se
evidenciou apenas no Recreio do Trabalhador na Vila Operária da CSN, mas também
em outras sociedades recreativas da região mineira, segundo informações do
senhor Osvaldo Tancredo[25], integrante da banda American Night, que animava os
bailes na região carbonífera. Na vila
operária da Companhia, como reportam os narradores que entrevistei da empresa
mineradora, a divisão se dava por sede recreativa.
Utilizando-se
de fontes como entrevistas e de pesquisa nas atas do clube, verificou-se que na
vila da CSN foram construídas duas sedes recreativas; uma para os operários não negros e outra para os operários negros. Em outras
vilas, onde não havia duas sedes, a separação entre negros e brancos nos bailes
era feita por uma corda ou um tipo de cerca que marcava o limite de cada etnia,
prática que ficou evidenciada em trabalho anterior do grupo de pesquisa Memória
e Cultura do carvão[26].
Esta separação no meio do salão onde se realizavam os
bailes, conforme informações do senhor Osvaldo Tancredo, na década de 1970 já
não existia, foi sustentada até meados da década de 1960. Posteriormente, o
negro habitante da vila operária que não tivesse duas sedes, precisava se
deslocar para a vila que oferecia um clube para negros ou freqüentar os salões de
baile de particulares. O que demonstra que a empresa mineradora reforçava a
divisão étnica quando construía duas sedes recreativas.
Junto com a construção do Recreio do Trabalhador,
criou-se uma sede recreativa chamada União Mineira para lazer dos operários
negros, no entanto esta sede não teve uma construção específica e
transformou-se uma casa de moradia da vila em sede recreativa.
Durante a
pesquisa, alguns entrevistados falaram desta separação, sendo que cada um
expressava sua opinião e, a cada opinião uma nova leitura da sociedade era
vivenciada. Na entrevista do senhor Gilson Martins[27], que foi
o primeiro presidente do Recreio do Trabalhador, pontuou-se que a construção de
uma sede específica para os negros foi uma solicitação dos próprios negros, porque
esses não se “sentiam bem em freqüentar o mesmo lugar que os brancos”.
Nesta
direção, no oficio de no. 1 de 05.12.1952 enviado ao senhor Fernando Fonseca de
Araújo, chefe do DSS/S (departamento de serviço social setor) de Siderópolis
comunicando a decisão de se construir sedes diferenciadas, encontra-se
que:
A terceira sede foi estabelecida, não tanto pela
distância, mas especialmente pela insistência dos homens de cor em ter uma sede
onde pudessem manter suas atividades sociais em Siderópolis, já que se sentem
deslocados entre os restantes serventuários. Toda argumentação apresentada por
nós foi vencida por esta afirmação. Os homens de cor ficariam privados de
festas e bailes, pois definitivamente não freqüentariam as outras sedes.
Acreditamos que, (...) gradativamente
poderemos eliminar em Siderópolis esta separação instável de cores. Não
encontramos outra solução no presente, pois é certo que a união forçada não nos
aproximará da solução almejada.
Esse
documento pode ser analisado de duas formas: a partir da fala de Mafessolini[28], sendo que
a posição dos negros em relação a ter um clube recreativo próprio implicava em
tornar uma situação de discriminação, pois o negro sabia-se discriminado por
atitudes e situações cotidianas dentro daquela sociedade. Portanto em tática de
resistência, que não o choque frontal, mas que lhe garantiria a soberania sobre
sua própria vida, ou das ações daquele que domina, o ofício citado estaria
ocultando uma prática não legítima, mas naturalizada como tal, muito freqüente
no período em questão, e que ainda se evidenciam na sociedade.
Portanto,
os vestígios mostrados pela fonte pesquisada deixam um viés para estudos
posteriores, para serem confrontadas com outras fontes, de uma questão
vivenciada e experimentada por homens e mulheres que traziam na cor de sua pele
a marca da diferença, num período onde as diferenças eram vistas como
inferioridades.
É
importante ressaltar que além do preconceito étnico presente nesta sociedade,
as mulheres também eram alvos de vigilância e punição, pois vigiava-se o namoro
dentro da sede recreativa, e puniam-se as mulheres acusadas pelos homens, de
não serem mais “direitas”.
Nesta direção, as palavras de seu Gilson
Martins evidenciam o controle da sociedade sobre os indivíduos: “(...) uma moça
quando tinha relação com o namorado não entrava mais no clube”. Quando questionado sobre essa afirmação em
relação à moça mencionada ele respondeu: “(...) o lugar era pequeno e todo
mundo sabia”.
Numa outra situação falada pelo entrevistado, ficou
evidente que as normas colocadas pelo clube não tinham respaldo legal. Gilson
Martins pontua que:
Um casal chegou para entrar no
baile, e já passava da meia noite. O fiscal barrou na porta. A gente sabia que
a moça não era direita. Não ia deixar entrar. Só que a moça foi dar parte no
juiz em urussanga. O
fiscal foi chamado pelo juiz para dar explicações. Foi instruído a dizer para o
juiz que ela não entrou porque já passava da meia noite e o rapaz não era sócio
do clube.
Outro momento lembrado pelo senhor Gilson Martins foi
à tentativa da diretora social, uma assistente social vinda do Rio de Janeiro
para trabalhar na CSN, de interferir nas normas de conduta do clube:
(...)
tinha dona Vilma que era diretora social, veio do Rio. Ela queria botar uma
moça lá a força, que essa moça entrasse. Essa moça já tinha tido um caso com um
rapaz. O problema foi eu com ela. Eu conversei, eu não sou contra, não tem
nada. Mas se a senhora botar essa moça lá no salão, ela entra numa porta e as
outras vão todas embora.
Perguntei então o motivo alegado pela assistente
social para tal tentativa, e a resposta foi “a dona Vilma queria integrar essa
moça na sociedade”. Desta forma percebe-se que o entendimento de sociedade de
dona Vilma transcendia a realidade
vivenciada por aquela comunidade.
3.4 No
espaço cultural
Não posso deixar de mencionar que no Recreio do
Trabalhador também se assistia cinema. Na entrevista com o srº. Osvaldo
Tancredo ele contou como funcionava o cinema:
A CSN também no final dos anos 60 adquiriu máquinas e colocava-se uma
tela, era cinemascope, tela menor que subia e descia. Lá nós assistíamos a
semana toda cinema. Tínhamos, inclusive, uma programação mensal dos filmes. E
nos finais de semana quando não tinha baile, o cinema funcionava (...)
Outra afirmação neste sentido diz que:
(...) o
Recreio do Trabalhador apresentava sessões às noites de terça–feira,
quinta-feira e sábado quando não aconteciam bailes. Haviam seriados
tradicionais, (...) dos mais variados tipos. Filmes brasileiros eram uma constante,
principalmente as “chanchadas”.[29] (...).[30]
A
implantação de cinema na sede recreativa, como espaço de entretenimento, pode
ser entendida como estratégia para evitar que a família operária mineira saísse
da “Vila Operária” para assistir os filmes no cinema do centro da cidade ou
outras atividades.
Essa
estratégia de controle era por diversas vezes ludibriada pelos operários, porém
a Cia se apoderou desta subversão e cedeu o ônibus da empresa para levar os
operários a assistirem o cinema no centro da cidade. Percebe-se, então que a
concepção de “jogo duplo” colocada por Mafessolini permeava as relações entre o
operário mineiro e empresa mineradora estatal, pois a empresa incorporava a
compreensão e o paternalismo ao colocar o transporte a disposição dos operários,
mas com o intuito de vigiar, e o operário garantia a soberania sobre seus atos,
na intenção de não se deixar moldar.
3.5 No interior do Recreio acontecia...
No
filme “Narradores de Jave”,[31] os
moradores da pequena cidade precisavam visitar suas memórias e encontrar a história dos primeiros
moradores. Nessa história a cidade precisava provar que tinha um valor de
patrimônio histórico, pois somente assim a cidade estaria livre de ser
inundada com a represa da hidrelétrica que ali viria se instalar.
Da
mesma forma, os narradores de Fiorita, contam suas lembranças, talvez na
tentativa de alimentar um passado que (...)
não reconhece o seu lugar, está sempre no presente” [32],
passado que marcou a vida de meninos e meninas - jovens - que viviam numa vila
com regras de condutas elaboradas por adultos, e muitas vezes, não entendido e
portanto ludibriado pelos adolescentes.
Era o namoro, a paquera, os olhares enamorados, tudo muito discreto, pois a
censura era atuante.
Além
da censura e disciplina existia no Recreio regras de formalidades na elaboração
de seus eventos. Por exemplo, para a realização de um baile, era escolhido um
tema específico e a temática selecionada era acompanhada da indumentária dos
participantes, da decoração do salão, e do uniforme da banda, ou seja, os
músicos da banda, necessariamente teriam que estar vestidos de acordo com o
tema do baile.
Em
entrevista com o professor Kika [33],
os bailes lembrados foram de debutantes, com o traje social (camisa, gravata,
paletó – vestido longo, cabelos alinhados, maquiagem), o baile junino, no qual
a peça que não poderia faltar era o lenço no pescoço, que era vendido junto com
o bilhete de entrada para aqueles desavisados, na secretaria do clube. Havia
também o baile de carnaval, com blocos carnavalescos, que fantasiados faziam
coreografia no salão.
Durante
a entrevista o professor lembrou de um momento específico dos bailes: o
intervalo. Esse momento comentado pelo professor que como músico, tocava nos
bailes do Recreio do trabalhador, era o momento de chegar perto da menina que
se estava namorando, pegar nas mãos, conversar, sendo no intervalo que os
jovens com interesses comuns aproveitavam para se conhecer, conversar, e muitas
vezes, tentar sair do salão para um namoro mais quente e discreto.
Essa
tentativa que se entende como burladora, aparece na fala do senhor Gilson
Martins como “difícil de acontecer”, pois a vigilância exercida pelos diretores
do clube, não permitia a saída de casais de namorados, ou então de moças
sozinhas, a não ser para ir embora.
Neste
contexto, Edson[34],
morador da comunidade de Rio Fiorita, e colaborador da pesquisa, relatou em sua
entrevista que os pais deixavam as filhas na porta do clube e a partir dali a
responsabilidade na vigilância com as garotas recaia sobre dos diretores. Essa
prática era vista como confiança mútua entre os habitantes daquela localidade,
ou seja, o zelo pelo ser querido é estendido para além das quatro paredes do
lar e da família.
No
entanto fica evidenciado que as normas eram de alguma forma transgredidas,
visto que um número considerável de penalidade foi registrado, principalmente
durante a década de 1980, tendo como motivo “(...) ter praticado ato
indisciplinar não aceitável pela sociedade, durante o transcorrer do baile
(...)”, sendo que esta penalidade citada foi imposta a uma moça.
Argumenta-se
que a vigilância também era exercida pela polícia, pois nas fontes encontrou-se
registro de diferentes períodos solicitando policiamento tanto no futebol como
nos bailes.
A
pesquisa mostrou, ainda uma ativa participação dos moradores nas atividades
disponíveis no Recreio. Observou-se que
num relatório do ano de 1964 que de julho a dezembro houve 1.546 participantes
no jogo de snoocker, 579 de ping pong, 530 de dama, 5.223 de dominó, e 131 freqüentaram
a biblioteca.
Destes,
o fato de o Recreio possuir uma biblioteca chamou a atenção e foi surpreendente
constatar que essa biblioteca possuía algumas obras, ainda hoje, consideradas
clássicas, por exemplo: Os Miseráveis de Vitor Hugo, Germinal de Emile Zola, ou
então obras de Alexandre Dumas, Miguel de Cervantes, Julio Werne, Shakespeare.
Num levantamento feito em 31.12.1959, essa biblioteca possuía 657 livros.
Outra
informação relevante diz respeito a assinatura de um jornal chamado “Atualidades
Francesas”, pois encontrou-se um oficio solicitando a permissão para essa
assinatura, colocando que era do interesse dos empregados ter esse informativo
a seu dispor. Essa informação pode ser indício do desejo de alguns operários
que estavam em processo de alfabetização, pois segundo as fontes em 1959 o
curso de alfabetização contava com 24 inscritos.
Entre
as atividades que aconteciam no Recreio do Trabalhador, duas foram registradas
na entrevista com o senhor Valmir Cardoso, Dona Joaquina, sua esposa e a
vizinha Dona Laura[35].
O
senhor Valmir comenta que “passava muitos filmes bons. Vinha artista de fora
aqui no recreio, eles faziam aquelas festas; a siderúrgica mandava buscar os
artistas, vinha mágico... (...)”.
Dona
Laura lembra:
(...) veio às mulatas do Sargenteli aqui
(...) uma vez passei vergonha porque elas foram todas passar o rio e iam
puxando a roupa para não molhar na água, e eu tava com medo, porque eu tava com
o Francisco e tinha o compadre Gregório e eu tinha vergonha que elas estavam
levantando o vestido”.
A
observação de Dona Laura deixa margem para pensar-se que as mulatas do
Sargenteli usavam saias compridas, mas será que era desta forma que se
apresentavam no palco?
Outro
episódio lembrado foi à vinda do professor de hipnotismo Rosman, em 1958. Uma
das lembranças que trouxe o sorriso nos rostos dos narradores foi o comentário
jocoso sobre o assunto “a mulher do engenheiro Álvaro dançava no palco,
(hipnotizada) porque ele hipnotizava”.
O Senhor
Valmir lembra que “(...) Tinha matiné, as crianças iam o matiné”. Porém não era
somente nos matinés que as crianças iam, pois nos bailes noturnos elas também
participavam. Essa participação acontecia pelos olhares através das janelas
aonde as meninas que acompanhavam as moças não adentravam no clube. Estas
meninas ficavam na ponta dos pés e observavam o baile através das frestas da
porta de vidro, por entre a “cortina vermelha” entreabertas ou não, o que
permitia o olhar curioso da garotinha ou sua imaginação de conhecer um pouco do
mundo adulto.
Essas
lembranças estão cristalizadas na memória da narradora Sonia[36], que ainda
se emociona em recordá-las, diz ela:
(...) eu lembro que eu ficava pendurada, a
janela era bem alta daí tinha uma beiradinha, eu subia ou então a gente levava
um toco de madeira e botava para subir em cima para enxergar dentro do recreio
e às vezes ali tem a parte que era porta só que as caras botavam aquela cortina
vermelha que a gente não conseguia ver nada (...).
Esses
momentos de lembranças emocionadas, incorporadas, recontadas são refeitas
quando o provocador da memória, é visto e sentido não apenas como uma
construção material, mas como um “lugar de memória”.
Nesta
direção é importante mencionar as ocasiões de comemoração de aniversário da
Companhia. Observe-se que no dia 9 de abril de 1962 , foram expedidos convites
com os seguintes dizeres:
Carta convite
A Cia Siderúrgica Nacional convida os seus empregados e suas exmas
famílias para as festividades de seu 21º aniversário, a serem realizadas em
Siderópolis conforme programação abaixo:
Dia
8 - 20h: partida de voleibol entre as equipes da Vila residencial X Beluno, em
disputa de jogo de camisa. Dia 9 -8h celebração do santo oficio da missa na
capela de Santa Bárbara. As 9:30 entrega de prêmios aos empregados que
completaram 10 anos de bons serviços prestados a CSN no Recreio do Trabalhador.
As 11h coquetel no Recreio do Trabalhador aos empregados e autoridades. 14h
Hora da arte no recreio. 15:30 jogo amistoso (obs: com portões abertos), as 18h
sessão cinematográfica gratuita no recreio, para menores de 14 anos. As 20h
sessão cinematográfica gratuita para os empregados e dependentes maiores de 14
anos.
A leitura
deste convite, assim como outros documentos pesquisados do clube deixaram
dúvidas em relação a gratuidade de algumas atividades recreativas oferecidas
pela Cia no Recreio do Trabalhador. Observe-se que se em dia de festividades
anunciavam a gratuidade das atividades no Recreio do Trabalhador, como exemplo
a entrada no cinema, como consta na carta convite, pode significar que em
outras ocasiões, os operários pagavam para participar das mesmas; idéia que não
encontra respaldo nos entrevistados, mas que as fontes escritas trazem fortes
indícios.
Como exemplo, pode-se citar os brinquedos
encomendados pela Cia junto à “Manufatura dos Brinquedos Estrelas S. A“, para
os pais presentearem as crianças no natal que eram descontados na folha de
pagamento, no seu valor integral, inclusive com frete, imposto, embalagens, e
também “(...) os impostos devidos a CSN para desconto na folha do mês de
dezembro”.
Portanto, se os brinquedos eram pagos, para as
crianças pouco importava, afinal era natal!
A música que tocava no alto-falante do Recreio do Trabalhador logo pela
manhã, não deixava dúvidas. Toda a comunidade acordava com o som natalino.
Edson lembrou que os alto falantes colocados na parte externa das paredes do
Recreio permitiam que o som ou a música natalina chegasse em todos os lares da
comunidade, acordando crianças e adultos lembrando a todos do nascimento do
menino Jesus.
Diante destes expostos, segue uma seqüência de fotos
que demonstram as argüições feitas no decorre deste estudo, observe-se:
Fonte: Arquivo Histórico de
Tubarão
Fonte: Arquivo Histórico de
Tubarão
Fonte: Arquivo Histórico de
Tubarão
Fonte: Arquivo Histórico de
Tubarão
Fonte: Arquivo Histórico de
Tubarão
Fonte: Arquivo Particular de
Gilson Martins.
Fonte: Arquivo Particular de
Gilson Martins.
Fonte: Arquivo Particular de
Gilson Martins.
Fonte: Arquivo Particular de
Gilson Martins.
Fonte: Arquivo Particular de
Gilson Martins.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A família
operária da Vila da CSN em Siderópolis criou, recriou, participou, elaborou,
reelaborou, as mais variadas formas de lazer no Recreio do Trabalhador. Na vila
a comunidade construiu uma rede de sociabilidade por meio deste espaço que a
empresa criou num referencial de paternalismo, pois da condição de operário da
CSN apropriou-se uma identidade que julgava privilegiada.
No entanto esse envolvimento, esse
entrelaçamento daquela comunidade foi vítima do tempo e o tempo não pára,
deixou as lembranças, a saudade, e
seguiu adiante. Por motivos diversos muitos alçaram outros vôos, jovens foram
em busca de outras oportunidades, aposentados voltaram para as cidades de onde
vieram quando jovens, outros permanecem na localidade.
A Cia foi extinta no final dos anos de
1989, por determinação do governo
Fernando Collor de Melo e atualmente parte do local que comportava o
complexo da CSN foi reconfigurado, reelaborado para outras funções, outras
representações gerenciados pela iniciativa privada. A construção que abrigava o
escritório central esta fisicamente abandonada. As ruínas deste local retratam
ações de uma sociedade pragmática e utilitária que abandona os lugares quando,
na concepção desta sociedade, esses lugares já não lhes são mais úteis.
O Recreio do Trabalhador, após um período
de abandono, foi apropriado pela comunidade que lhe devolveu o uso para o
lazer. Outra geração, outros jovens estão colocando no Recreio do Trabalhador
seu jeito de viver, estão o adaptando ao seu modo de vida, redefinindo a
memória coletiva daquela comunidade.
Entretanto, quando fazem uso do Recreio,
em momentos de lazer, inconscientemente ou não
provocam lembranças, David Lowenthal[37] afirma que
estamos constantemente em contato com algum momento do passado, pois “(...)
somente concentração intensa numa ocupação imediata pode impedir o passado de
vir espontaneamente à mente”.
Desta forma os narradores de Fiorita,
seguem contando sua história. História que não
fica dissociada da Companhia Siderúrgica Nacional, na memória daqueles
que com ela conviveram em seu cotidiano, pois de acordo com Eclêa Bosi[38] ecoa “As lembranças (...) tem assento nas pedras da
cidade”, “As pedras da cidade, enquanto
permanecem , sustentam a memória”.
Quantas lembranças ficaram adormecidas!
Quantas foram recordadas!
A memória é assim, seletiva. Homens e
mulheres que trazem suas íntimas
vivências que pertencem ao passado, mas que se manifestam quando são
instigadas, quando lhe é oferecida a oportunidade de refazê-las.
Portanto, preservar o Recreio do Trabalhador como patrimônio
histórico é dar visibilidade às lembranças, é preservar um patrimônio imaterial
que nos permite a condição humana: a memória .
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Documentos do acervo
do Recreio do Trabalhador e do acervo do
grupo de pesquisa Memória e Cultura do carvão.
Nota de fornecimento
material.
Requisições de
compras de materiais da sede recreativa
Recreio do Trabalhador.
Recibos de pagamentos
por serviço prestado à sede.
Autorização para
desconto em folha de pagamento dos serventuários da CSN.
Programação de
atividades mensal / anual do Recreio do trabalhador
Inventário de bens do
Recreio do Trabalhador
Ofícios enviados e
recebidos.
Convocações
Correspondências
recebidas pela sede recreativa.
Punições a sócios do
Recreio do Trabalhador.
Ficha de bufet do
restaurante e bar do Recreio do Trabalhador.
Ata do Itaúna Atlético
clube.
Entrevistas
BERNARDO, Edson. Ex-funcionário da CSN. Foi diretor do Recreio do Trabalhador no final
dos anos 1970 e meados de 1980. morador de Siderópolis. Nasceu em Siderópolis
em 31/07/1957.Entrevista concedida a Roseli T. Bernardo em 20/10/05.
BITENCOURT,
Laura. Moradora da comunidade de Rio Fiorita. Nasceu em Imaruí em 14/05/1928.
Entrevista concedida a Roseli T.Bernardo em 17/04/04.
CARDOSO
Joaquina da Rocha. Esposa de Valmir Cardoso. Nasceu em Maracajá em 08/03/1934.
CARDOSO,Valmir
Cardoso. Ex-funcionário da CSN. Morador da comunidade de Rio Fiorita, nasceu
Imbituba em 11/05/1934.
MARTINS, Gilson. Ex-funcionário da CSN e Foi primeiro presidente do Recreio do Trabalhador. Nasceu em Imbituba em
18/05/1923. Entrevista concedida a Roseli Bernardo em 31.08.05.
ROSSO, Rosemar Romualdo. Diretor da E.E.B. Sílvio Ferraro. Morador de
Siderópolis. Nasceu em Siderópolis em 14/02/1959. Entrevista concedida a Roseli
T. Bernardo em 07.10.05.
SEBBEN, Sônia Maria B. ex-moradora da comunidade de Rio Fiorita, nasceu
em Siderópolis em 01/11/1955 . Entrevista concedida em 20.10.2005, para Roseli
T.Bernardo.
TANCREDO, Osvaldo.Morador de Siderópolis. Foi musico da banda American Night de Siderópolis. Nasceu
em 25/09/1945 Entrevista concedida a Roseli T.Bernardo em
07.03.2003
[4] FERNANDES, José Ricardo Oria. Revista Brasileira de
História. Memória, História, Historiografia. In: Educação Patrimonial e
Cidadania: uma proposta alternativa para o ensino da história. Dossiê Ensino da
História. v.13, no.25,25. ANPHU. Ed. Marco Zero, São Paulo, 1992.
[5] Ibidem nota 05.
[6] GONÇALVES José Ricardo Santos. O patrimônio como
categoria de pensamento. In: Memória e patrimônio. Org. ABREU, Regina; CHAGAS, Mario. Rio de
Janeiro: DP&A, 2003.
[7] SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. O
pesadelo da Amnésia Coletiva. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São
Paulo, v.23, n 8, p.16-32, 1993.
[8] Esse formato de vila operária não era exclusividade
de Fiorita, mas sim um modelo vindo da Inglaterra e que foi implantado nas
vilas operárias no Brasil, no inicio da industrialização.
[9] Ver fotos no final do capítulo II.
[10] HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice,
1990.p.25-52.
[11]
NORA, Pierre. Entre memória e história: a
problemática dos lugares. In: Revista
do programa de história – PUC/SP, 1993.
[13] DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. Ávida Fora das
Fábricas: Cotidiano Operário em
São Paulo 1920/1934. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
[14] SANT’ANA , Denise Bernuzzi. O prazer justificado.
História e Lazer (São Paulo 1969/1979). Ed. Marco Zero. São Paulo, 1994.
[15] Ibidem nota 14.
[16] Ibidem nota 13.
[21] DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. A vida
fora das fábricas: Cotidiano operário em São Paulo 1920/1934. São Paulo: Paz e terra, 1987.
[22] Foucault, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de janeiro: Nau Ed.1996.
[23] COSTA, Marli de Oliveira. “ Artes de viver” recriando e reinventando espaços – memórias das
famílias operárias mineira Próspera Criciúma(1945-1961). Dissertação –UFSC,
1999.
[24] RAGO, Margareth.
Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 3ª. Ed. 1997. Cap. IV. A desvalorização do espaço urbano.
[25] TANCREDO Osvaldo. Entrevista concedida em
07.03.2003.
[26] BERNARDO, Roseli.
O tempo e os espaços de entretenimento das famílias operárias mineiras.
In: Memória e Cultura do Carvão em Santa Catarina. Ed. Cidade Futura.
[27]MARTINS Gilson. Ex-funcionário da CSN e membro da
diretoria do Recreio do Trabalhador. Entrevista concedida a Roseli Bernardo em
31.08.05.
[28] MAFESSOLINI, Michel. A Conquista do Presente. Natal:
Argos, 2001.
[29] Chanchada –
filmes, peças ou espetáculos com sátira e deboches.
[30] BERNARDO, Rosania Terezinha. Movimentos Culturais: Tradições
transformadas. Especialização em Metodologia de Ensino e Pesquisa em Educação Artística.
Faculdades Integradas de Amparo. 2001.
[31] Narradores de Jave. Drama. Direção: Eliane Caffé.
Lançamento 2003. Distribuição: Riofilme.
[32] QUINTANA, Mario. Da Riqueza de Estilos. Caderno H.
Porto Alegre: Globo, 1983.
[33] ROSSO, Rosemar Romualdo -entrevista concedida a
Roseli Terezinha Bernardo em 07.10.05.
[34] BERNARDO, Edson. Foi diretor do Recreio do
Trabalhador no final dos anos 1970 e meados de 1980. Entrevista concedida em
20/10/05.
[35] Valmir Cardoso, Joaquina Cardoso e Laura Bitencourt.
Entrevista concedida a Roseli T.Bernardo em 17/04/04, Siderópolis.
[36] SEBBEN Sônia Maria B. Ex-moradora da comunidade.
Entrevista cedida em 20.10.05
[37] LOWENTHAL, David. Como conhecemos o
passado. (tradução de Lucia Haddad). Projeto História/PUC. São Paulo,
1998. Pág. 64.