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Um pouco da história do recreio



UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL E HISTÓRIA CULTURAL
RECREIO DO TRABALHOR: UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO 
CRICIÚMA, NOVEMBRO 2005


ROSELI TEREZINHA BERNARDO 

RECREIO DO TRABALHADOR: UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO 

Monografia apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em História Cultural e História Social.

Orientadora: Prof. MSc. Marli de Oliveira Costa. 
CRICIÚMA, NOVEMBRO 2005 

Ao meu pai que está vivo em meu coração, à minha mãe que sempre me espera com um gostoso abraço e ao meu filho na impaciência de sua adolescência. A eles dedico meu trabalho.


AGRADECIMENTOS

Quando caminhamos acompanhados a distância parece ser menor, por isso gosto de estar sempre acompanhada por muitos e, durante a realização deste trabalho não foi diferente, pois estive na companhia da minha família sempre apoiando, ajudando e compreendendo.
Agradeço a minha mãe Catarina, ao meu filho Rafael, ao meu marido Aldo, a meus irmãos, sobrinhos, cunhadas, enfim a essa família maravilhosa que tenho.
Aos meus amigos Rodrigo e jailson que estão comigo desde a graduação, no qual vivenciamos momentos diversos; de alegria, de tristeza, de vitória, dentre outros, pois estávamos sempre juntos. As amigas Ana Cristina, Cristiane, essas mais recentes, porém grandes companheiras.
Agradeço a uma amiga-mãe-irmã “Maria de Fátima Dal Toe de Oliveira”. Aos professores Carlos Renato Carola, João Henrique Zanelatto, Antonio Luiz Miranda, Nivaldo Goularte, Lucy Cristina Osteto,  que além de  professores foram amigos que deixaram fortes referencias. Não negligenciando o professor Alcides Goulartti, membro do grupo “Memória e Cultura do Carvão”, que proporcionou um grande aprendizado.
Agradeço em especial a professora Marli de Oliveira Costa, a Lili, a quem agradeço como amiga, como orientadora e como referencial de pesquisadora, de historiadora, pois meu aprendizado e crescimento como historiadora pesquisadora, tem muito da Lili.

Meu agradecimento a todos vocês.


Os Antigos e a Memória
Os antigos gregos consideravam a memória uma identidade sobrenatural  ou divina: era a deusa Mnemosyne, mãe das musas, que protegem as artes e a história. A deusa memória dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembra-lo para a coletividade. Tinha o poder de conferir imortalidade aos mortais, pois quando o artista ou historiador registra em suas obras a fisionomia, os gestos, os atos, os efeitos e as palavras de um humano, este nunca será esquecido e, por isso, tornando-se memorável, não morrerá jamais.
Marilena Chauí, 1998.


RESUMO


O trabalho que segue objetiva dar visibilidade e sensibilizar para a preservação de um patrimônio histórico chamado Recreio do Trabalhador, uma sede recreativa que fez parte na formação de uma comunidade identificada como operários mineiros da Companhia Siderúrgica Nacional- CSN, em Rio Fiorita localizado em Siderópolis-SC. Assim como a preservação desse patrimônio material, se faz necessário à preservação de um bem imaterial, a memória coletiva,  da comunidade do Rio Fiorita sobre a memória do lazer. A utilização da fonte oral, da pesquisa em documentos e em fotografias, foram de grande importância na realização do trabalho, pois possibilitou a identificação e a problematização dos diferentes lazeres ali desenvolvidos, permitindo a  visualização das formas de controle e preconceito existente nessa Vila operária. No entanto as pessoas colocaram nessas atividades seu jeito de viver e conviver, se apropriaram do que lhes era imposto, e desenvolveram formas de lazer acessíveis para todos os moradores da vila.


Palavras-chave:: Patrimônio; preservação; memória; lazer.


SUMÁRIO


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................07
2 MEMÓRIA E PATRIMONIO HISTÓRICO...............................................................11
2.1 Guardiões De Identidades....................................................................................11
2.2 O Recreio e sua Arquitetura.................................................................................16
2.3 Criação e Uso do Espaço.....................................................................................18
3 O RECREIO NO COTIDIANO DA VILA OPERÁRIA.............................................31
3.1 Lazer, Transgressões e Imposições....................................................................31
3.2 O Recreio do Trabalhador como espaço de controle na vila operária................32
3.3 Preconceito no espaço de sociabilidade.............................................................36

3.4 No espaço cultural...............................................................................................38

3.5 No interior do Recreio acontecia..........................................................................40

CONSIDERAÇOES FINAIS.......................................................................................50

REFERENCIAS..........................................................................................................52



1 INTRODUÇÃO


A sociedade transforma-se pelo emaranhado de várias relações: culturais, econômicas e sociais. Os sujeitos históricos agem sobre seu cotidiano por meio de ações que geram transformações lentas e constantes, muitas vezes imperceptíveis e aceitas como natural.  O historiador atento a essas transformações, procura intervir nessa ação humana, alertando para a necessidade de preservação de referenciais do passado, corporificado em construções materiais ou repassado por gerações por meio da oralidade, constituindo-se em construções imateriais, que não traduzem a ideologia de uma elite.
Neste sentido, a preocupação com essa preservação, objetiva garantir a continuidade de grupos sociais que ficaram invisíveis na história oficial, possibilitando a visibilidade da ação desses grupos que nela atuaram.
Portanto, instigada pelo desejo de sensibilizar para a preservação de um evocador de fragmentos de tantas memórias, motivei-me a pesquisar o “Recreio do Trabalhador”, na vila operaria mineira da CSN, pois os habitantes desta vila produziram práticas cotidianas que foram faladas, apontadas, censuradas, elogiadas, assim como foram partícipes de um período em que o país caminhava para o desenvolvimento da indústria brasileira. Essas práticas cotidianas guardadas na memória da comunidade emergiram a tona no transcorrer do trabalho realizado. 
Entretanto, a escolha o Recreio do Trabalhador como objeto de pesquisa foi também por considerar a relevância do mesmo dentro do contexto da Vila Operária Mineira da CSN, pois esse local foi testemunho de momentos de troca, de convivência, de experiência, de aprendizado e ficou por um longo período “invisível” dentro da vila operária, passando despercebido pelo poder público local, evidenciando o descaso com a memória de uma população que ali se constituiu.
Diante desse contexto, a proposta deste trabalho é oferecer visibilidade a um patrimônio material que está cristalizado na memória dessa comunidade, que se reconhece neste local e que foi parte de um cotidiano constituído e vivenciado a partir da instalação da empresa estatal na década de 1940.
A pesquisa foi delimitada no período entre as décadas de 1941-1989, sendo que por meio de estudos já realizados, este tempo delimitado estará contemplando o período em que as atividades da Cia estavam iniciando no antigo distrito de Belluno, atualmente o município de Siderópolis e também, o período em que a mesma estava paralisando suas atividades neste local.
A pesquisa foi realizada por meio de fontes escritas, por meio da pesquisa bibliográfica, com leituras e fichamento das mesmas; fontes orais, utilizando-se de entrevistas com antigos moradores que lá permanecem até os dias de hoje, como também aqueles que já não moram mais no local; fontes fotográficas, procurando reconhecer nas fotos as falas dos entrevistados e também com a visita no local onde está construído o Recreio do Trabalhador.
Neste sentido, para a elaboração do trabalho se fez necessário à utilização de referenciais teóricos que concebessem um novo olhar sobre a história, o que direciona esse trabalho de pesquisa numa perspectiva voltada para a nova história, pois nesta perspectiva permite-se que as vozes que por muito tempo não tiveram a oportunidade de se fazer ouvir conseguissem se manifestar.  
Desta forma a base teórica da pesquisa esta pautada em autores que discutem não apenas o viés econômico, religioso, político e militar, de uma dada sociedade para contar sua história, e sim categorias como o cotidiano e a memória que permitem tornar visíveis práticas produzidas por diversos sujeitos históricos.   Portanto, a investigação tornou possível a percepção das formas de sociabilidade que se desenvolveram na comunidade estudada.
Neste sentido, com vistas à explanação do trabalho, a presente pesquisa encontra-se dividida em três capítulos, o primeiro é introdutório e discorre sobre as considerações do trabalho e da pesquisa realizada.
O segundo capítulo apresenta uma discussão sobre a preservação do patrimônio histórico, de como se pensou a preservação de locais que serviram de referenciais em determinados períodos da história do Brasil, da preocupação atual de estudiosos com a preservação não apenas do patrimônio material (de pedra e cal), mas também do imaterial (saberes, costumes, rituais), da importância de se preservar a memória e da sua representação para o ser humano. Além desta discussão esse capítulo oferece ao leitor uma descrição detalhada da parte física do Recreio do Trabalhador, pois no período pesquisado essa construção se diferencia das demais pelo seu estilo arquitetônico, e pela localização geográfica. Outra discussão deste segmento centra-se na formação de espaços de lazer, formas de lazer e do uso destes espaços nas vilas operárias do Brasil em períodos anteriores, relacionando-os com a vila operária da CSN.
O terceiro capítulo procura dar visibilidade às manifestações culturais produzidas na vila por seus habitantes e pela empresa mineradora, assim como a utilização do Recreio do Trabalhador como espaço de controle das famílias operárias. Essa discussão, respaldada em referenciais teóricos, permitiu perceber que determinadas práticas, utilizadas na vila operária da CSN, para a disciplina do operário foram encontradas em vilas operárias da cidade de São Paulo, sendo que as formas de preconceito, as transgressões, as imposições ocorridas nos espaços de lazer também estão contempladas nesse capitulo.
Neste sentido, pesquisar esse espaço de convívio social foi perceber a importância que ele adquiriu para as famílias daquela vila operária, foi encontrar diversas formas de lazer que foram sucumbidas pelo tempo e que permaneceram na memória de um grupo, foi perceber as lembranças revividas quando em contato com o evocador de memória, pois desta forma pretende-se justificar e sensibilizar para a necessidade de preservar como patrimônio histórico esse espaço guardião de recordações, o Recreio do Trabalhador.


2 MEMÓRIA E PATRIMÔNIO HISTÓRICO.


Com vistas à explanação da pesquisa o presente capítulo discute sobre o patrimônio histórico cultural e dentro deste busca evidenciar os guardiões de identidades que por meio de suas memórias destacam o Recreio do Trabalhador e sua arquitetura e a criação e utilização deste espaço.

2.1 Guardiões de Identidades

A idéia de preservação do patrimônio histórico tornou-se mais significativa no Brasil durante o século XX, entretanto na Europa esse movimento de preservação do patrimônio histórico foi iniciado em meados do século XIX. Nos dois momentos, pensou-se na preservação de bens materiais que tivessem significativa relação com alguns fatos históricos determinados pela historiografia oficial. Neste sentido, a idéia seria a preservação de construções materiais que dariam legitimidade às construções históricas de uma parcela da sociedade, ou seja, “(...) trataram de cristalizar uma memória que reside em poucos lugares e pertencem a muitos poucos” [1].
Dessa forma, pode-se afirmar que se preservou a Casa Grande, mas não se cogitou a preservação da Senzala, porque na história oficial o personagem escravo não tinha visibilidade, não tinha história e conseqüentemente não poderia ter um ícone representativo.
A história oficial ganhou maior visibilidade e legitimidade a partir da criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – na década de 1930, no governo de Getulio Vargas. Este governo entre outras ações priorizou a identificação e a formação da brasilidade, do ser brasileiro, assim como consolidação de elementos que pudessem dar sentido de ser “brasileiro”. Portanto, houve a ação direta do Estado na formação da brasilidade através da imposição de ideais nacionalistas.
Neste contexto, de acordo com Myrian Sepúlveda dos Santos [2] encontra-se que:
(...) pensou-se na preservação do patrimônio cultural da nação. Mas a “cultura estadonovista” excluiu a representação mais ampla da sociedade em favor de uma política de patrimônio vigiada, controlada e regida pelos valores dos setores dominantes que se aglutinaram no poder.


Pode-se inferir então, que a historia oficial teria assegurado sua continuidade e legitimidade.
Maria Clementina Pereira Cunha demonstra sua preocupação quando diz que o Brasil é “(...) um país obcecado pelo moderno (...)”, e que essa busca pela modernização vai se refletir na construção de órgãos públicos de proteção ao patrimônio histórico. No entanto, esta preocupação em preservar o patrimônio estava intrínseca na legitimação de um passado “de glória” de uma elite brasileira, ou como diz Clementina “(...) para afirmar o triunfo daquilo que se auto-intitulava como novo”.
Marilena Chauí [3] também observa com preocupação as propostas de órgãos de esfera federal e estadual de preservação do patrimônio histórico, pois entende que o cidadão comum talvez não se reconhecesse naquela “identidade e símbolos celebrativos”.
Nesta direção, José Ricardo Oria Fernandes[4] também entende que na sociedade moderna, o homem ainda não conseguiu um equilíbrio entre o progresso e a preservação do passado; passado esse cheio de significados culturais para futuras gerações. Sendo assim, em nome do que é moderno, destrói-se um passado que poderia servir de referência para a construção do presente e futuro.
(...) todo cidadão tem direito à cultura, a memória coletiva e ao passado histórico. A memória social ou coletiva, evidenciada através dos registros, vestígios e fragmentos do passado – os chamados bens culturais de uma dada coletividade-constitui-se em referencial de nossa identidade cultural e instrumento possibilitador do exercício da plena cidadania. [5]


É com satisfação que se percebe várias pesquisas preocupando-se com a categoria do patrimônio, pois estas falam da necessidade da preservação dos bens culturais que foram parte de uma coletividade, não apenas das elites, mas também de grupos que ficaram por muito tempo a margem da história oficial.
Neste contexto, José Ricardo Santos Gonçalves[6], fala no caráter milenar da categoria patrimônio:
(...) ela não é simplesmente uma invenção moderna. Está presente no mundo clássico e na Idade Média, sendo que a modernidade ocidental apenas impõe contornos semânticos específicos que, assumidos por ela, podemos dizer que a categoria “patrimônio” também se faz presente nas sociedades tribais. E completa (...) estamos diante de uma categoria de pensamento extremamente importante para a vida social e mental de qualquer coletividade humana.

Apoiando-se nesses estudiosos entende-se que se faz necessário o desenvolvimento de uma consciência preservacionista de locais de memória, enquanto referencial de nossa identidade, pois segundo Myriam Santos[7], em referência ao filme Blade Runner, no qual os andróides não satisfeitos com a forma corporal humana perseguiam aquilo que lhes dariam a humanização plena, ou seja, a memória, a capacidade de recordação, pois o que os diferenciava dos seres humanos era ausência da memória, argumentando então que a memória seria a sustentação de nossa condição de ser humano.
Diante desses expostos, o Recreio do Trabalhador, objeto de estudo desta pesquisa, está localizado em Rio Fiorita, no município de Siderópolis, Sul do Estado de SC, numa área onde foi construído todo o complexo da Companhia Siderúrgica Nacional, ou seja, o escritório central, a farmácia, o ambulatório, a padaria, o açougue, o armazém, o estádio de futebol Eng. Mozart Vieira, e ainda o local no qual foram instalados a oficina mecânica, e o transporte, configurando-se na Vila de Operária Mineira da CSN[8].
Observe-se as figuras abaixo que compreendiam o complexo:
Figura 02: Ambulatório como parte do Complexo da CSN
Fonte: Arquivo Histórico de Tubarão


Figura 03: Padaria como parte do Complexo da CSN
Fonte: Arquivo Histórico de Tubarão


2.2 O Recreio e sua Arquitetura


O Recreio do Trabalhador pode ser visto como uma construção que se diferenciava das demais construções pela sua imponência, visto que na “Vila Operária” as casas eram de madeira e sua arquitetura não possuía traços exuberantes. 
Atualmente, a parte externa é toda revestida de uma textura de gesso decorada, e parte do prédio teve sua cor modificada recentemente, no mês de abril do ano de 2005, sendo que a cor original era branca, na parte dos fundos ainda mantém essa tonalidade. 
O seu interior pode ser descrito da seguinte forma: [9] O salão principal mantém a pintura original branco com detalhes em azul, o teto de madeira é formado por retângulos. Nas laterais do forro, as madeiras tipo costaneira envernizada compõem um outro trabalho de ornamento. Em uma das laterais, bem no alto perto do teto, existem aberturas utilizadas para a projeção de filmes.
Neste salão há um palco em madeira trabalhada, de formato ondulado que ainda apresenta as características de sua construção original. Um alçapão no chão, indica a entrada para os artistas que pisaram naquele palco. Há vestígios da iluminação e do som, já bem danificados. Nas janelas de vidros quadriculadas se observam os detalhes que acompanham o forro.
A construção apresenta no todo dez janelas de vidro e uma porta lateral também de vidro. No hall de acesso ao salão principal encontra-se o teto de madeira envernizada que traz no centro uma figura geométrica em formato oitavado, ou seja, com oito lados. O recreio do Trabalhador possui dois banheiros, um masculino e um feminino e uma escadaria em forma de caracol que dá acesso a parte superior onde eram projetados os filmes.
O bar é composto de um balcão em forma curvada, onde se misturam tijolos e madeira trabalhada, e na base é de azulejos na tonalidade verde escuro com brilho. Seu teto em madeira envernizada também é decorado. Na parede prateleiras de concreto sustentam vários troféus, alguns bem antigos, dos anos de 1944, 1952, entre outros.
Numa outra sala, localizada entre o bar e uma das entradas da lateral, o  teto e a metade das paredes são decorados, sendo que a decoração de madeira de costaneira envernizada dá volume a parede. O teto possui a decoração semelhante, a do salão principal, mas o que o diferencia é a ausência de figuras geométricas.
Torna-se interessante ressaltar que em cada peça a decoração se diferencia no estilo; na percepção desta pesquisadora, algumas das decorações deixavam o ambiente mais sofisticado que outras, sendo que esta percepção tornou-se mais evidente no cômodo onde está localizado o bar.
Na sala de jogos, cinco ao todo, não foi possível o acesso por que o clube está passando por reformas e este lado estava fechado, entretanto foi possível visualizar através das janelas e porta que nestas salas o forro não tinha detalhes. É um forro comum, sem decoração, de madeira pintada de branco. 
Salienta-se que esse local de memória foi representativo na vila operária porque seus habitantes o entendiam como preocupação da empresa com seu conforto e bem estar. As lembranças do senhor Gilson Martins, além de evidenciar essas representações, mostram que a construção física do Recreio do Trabalhador foi acompanhada com entusiasmo e expectativa por parte dos moradores, no qual muitos se sentiam orgulhosos em ver e pensar naquela construção como parte de suas vivências. 




2.3 Criação e Uso do Espaço


Anterior a constituição do Recreio como espaço de lazer dos funcionários da Cia, existiam cinco clubes recreativos na Vila. Eram eles: G.E. Vera Cruz, SER União Mineira, Sul Catarinense FC, Clube Atlético Siderúrgica, Sider Club Siderópolis, todos com a diretoria composta por empregados da Companhia Siderúrgica Nacional, e que recebiam verba de manutenção da Cia.
Entende-se, então que o Recreio do Trabalhador constitui-se como um patrimônio material de uma comunidade que se formou a partir da instalação da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN na década de 1940, e que foi parte da vivência de gerações de homens, mulheres e crianças que utilizavam suas dependências nos mais variados momentos de seu cotidiano.
Neste contexto, o Recreio do Trabalhador constitui-se num patrimônio que serve como evocador da memória para pessoas que o freqüentaram, sendo que as lembranças daqueles que moraram ou ainda moram na comunidade de Rio Fiorita estão enraizadas neste que foi um espaço de sociabilidade, de troca, de experiências.
Este exposto respalda-se nas idéias de Maurice Halbwachs [10] quando argumenta que necessitamos da memória de outras pessoas tanto para confirmar nossas próprias recordações como para dar a ela legitimidade.  Mesmo que o ato de lembrar possa ser pensado como a reconstrução no presente de experiências que foram vivenciadas anteriormente, de forma afetiva, ou seja, onde o sujeito se coloca como parte daquela memória.
Entretanto, a memória é muito mais que um ato de lembrar e segundo Pierre Nora[11]:
A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos, (...) ela está em permanente evolução, aberta a dialética da lembrança e do esquecimento, (...) a memória não se acomoda a detalhes que a confortam, ela se alimenta de lembranças vagas (...) a memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto.


Pierre Nora mostrou também sua preocupação com o que ele chamou de aceleração da história, pois segundo o autor, “nas sociedades antigas as pessoas viviam a memória ao repetir atos e sentidos e desta forma não necessitavam de lugares de memória”.
Neste sentido, os lugares de memória que aparecem na fala de Pierre Nora seriam os locais onde se cristalizariam um arsenal de evocadores, gerando, dessa forma, visibilidade a memória de grupos que já não existissem mais, sendo que o autor ainda lamenta: “se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos necessidade de lhe consagrar lugares”.
Com relação ao papel da história em relacionado à memória, Pierre Nora pontua que “no coração da história trabalha um criticismo destruidor de memória espontânea, pois a memória é sempre suspeita para a história, cuja verdadeira missão é destruí-la e a repelir configurando-se na desligitimação do passado vivido”.[12]
Entretanto, ressalta-se é necessário narrar a história e para isso é necessário dessacralizar a memória, pois a memória é absoluta, somente com a intervenção do historiador é que ela se torna história. É, portanto, no momento que o historiador problematiza a memória que ela se torna história.  Sendo através da história que se pode entender o ato de preservar. Por isso é necessário Preservar aquilo que serve de evocadores da memória para uma determinada sociedade.  
Como citado anteriormente, a fusão, ou seja, a união desses clubes que havia na cidade, segundo consta na ata de formação do clube, deu-se por solicitação dos empregados, desejosos de ter um clube que agregasse a todos, assim como também era um desejo dos diretores da Cia.
Pode-se pensar nessa fusão, como sendo uma forma de controle da Cia sobre seus empregados, afinal controlar os operários em cinco sedes recreativas era muito mais difícil, do que se fossem concentrados em um local. Desta forma colocou-se a disposição das famílias mineiras um espaço de lazer, com atividades recreativas, e sociais, que garantiria a ocupação do tempo livre em atividades  denominadas “saudáveis”.
Isso pode ser evidenciado no pensamento de Maria Auxiliadora D’ Decca”,[13] que analisou a situação do operário em São Paulo nos anos de 1920-1930, estudo no qual percebeu o surgimento de iniciativas de “disciplinar o lazer”, sendo que para ela, o lazer disciplinado era traduzido “(...) no patrocínio do futebol pela empresa, ou através de festas religiosas, procissões, romarias”, todas de forma organizada.
Neste contexto, Maria Auxiliadora D’ Decca afirma: “a disciplina do lazer (...) foi buscada pelos poderes públicos de forma idealizadora nos cuidados formativos com a criança, principalmente a dos meios operários”. 
Denise Bernuzzi de Sant’Ana[14], em sua publicação, coloca que “Determinadas noticias de jornais expressam o receio da reversão do tempo livre num tempo de algum modo pernicioso à sociedade, caso ele viesse se tornar maior que o tempo de trabalho sem os cuidados necessários”. Neste contexto a autora descreve a notícia publicada no jornal Correio da Manhã, editado no Rio de Janeiro nos anos de 1970, que assim se manifesta:
(...) a sociedade futura estaria composta quase totalmente de hippies, vistos como pessoas entregues ao uso de drogas – conseqüência provável da ociosidade – renunciando às estruturas sociais mais elementares como as convenções na maneira de vestir, a manutenção do “casal como base da sociedade, a diferenciação sexual. [15]


Sendo assim, os capitalistas buscaram estabelecer uma forma de controle desse tempo disponível, pois os meios operários, isto é, os locais onde os operários se encontravam depois do trabalho, eram vistos como “focos de agitação e revolta social”, [16] pelos donos das fábricas e indústrias.
Portanto, a prática de construir local de lazer nas vilas operárias não foi apenas uma peculiaridade da Cia Siderúrgica Nacional, foi o seguimento do modelo europeu nas vilas de industrialização, porque no Velho Mundo a massa trabalhadora havia tomado consciência de sua situação de exploração com jornada de trabalho extensa. Então, por meio de fortes movimentos sociais conseguiram uma lenta, mas constante diminuição das horas de trabalho. Com isso surge frente ao tempo de trabalho, um tempo excedente, definido como tempo disponível do trabalho[17].
Neste sentido, a Cia Siderúrgica Nacional seguiu o “modelo de poder e controle que emergiam pontual e inconsciente, no interior da sociedade capitalista visando conformar o operariado à ordem burguesa”.[18]
Ao analisar o cotidiano do operário fora do local de trabalho em São Paulo nas décadas 1920-1930 Maria Auxiliadora Guzzo Decca, afirma que: “nos bairros operários as diversões da população (...) eram cinema, futebol, baile e o teatro amador”.[19]
Essa referência remete a visão do cotidiano da Vila Operária mineira em Siderópolis, pois se percebe algumas semelhanças com os modelos das vilas operárias do maior centro urbano do país, nos quais encontrava-se como diversão: o cinema, o futebol, o baile e o teatro amador também nesses espaços. 
Por conseguinte, no tempo disponível do trabalho, que se traduz no final do expediente, o operário mineiro utilizava o Recreio do Trabalhador para uma partida de dama, dominó, ping pong, snoocker, ou então para leitura na biblioteca do clube, sendo que nos domingos ou feriados, era então o momento em que se assistia e torcia uma partida de futebol no estádio, sendo que nestes dias também se freqüentava o Recreio para assistir o cinema, o teatro, ou participar dos bailes.
Todas estas especificidades são ilustradas de maneira mais evidente nas figuras que seguem abaixo, observe-se:


Figura 04: Construção do Recreio do Trabalhador (1954)

fonte: Arquivo Histórico de Tubarão

Figura 05: Vista parcial da frente do Recreio do Trabalhador (2005)
Fonte: arquivo do autor

Figura 06: Salão principal (2005)
Fonte: arquivo do autor
Observação: na figura 06, a cor original da parede era branca no salão principal, porém após a visita no local em julho de 2005, parte da cor original foi modificada.


Figura 07: Palco do Salão Principal
Fonte: Arquivo do autor

Figura 08: Alçapão para entrada dos artistas a manivela, no palco.
Fonte: Arquivo do autor


Figura 09: Janelas laterais com detalhes em alto relevo na parede
Fonte: Arquivo do autor


Figura 10: Vista parcial do local de saída para  projeção dos filmes  no cinemascope
Fonte: Arquivo do autor


Figura 11: Vista parcial do teto do salão principal
Fonte: Arquivo do autor


Figura 12: Piso do salão Principal com as iniciais do Itaúna Atlético Clube
Fonte: Arquivo do autor



Figura 13: Vista parcial do teto do bar
Fonte: Arquivo do autor


Figura 14: Balcão do bar
Fonte: Arquivo do autor


Figura 15:  Parte do teto do Hall de acesso ao salão principal
Fonte: Arquivo do autor


Figura 16: vista da janela/ memórias do olhar das crianças nos bailes.
Fonte: Arquivo do autor

Figura 17: Vista parcial dos fundos sem restauração.
Fonte: Arquivo do autor




Figura 17: Contraste entre o reformado e o original.
Fonte: Arquivo do autor














3 O RECREIO NO COTIDIANO DA VILA OPERÁRIA

O presente capítulo segue discorrendo a cerca das questões que envolvem a comunidade da vila operária e do Recreio do Trabalhador, destacando o lazer, as transgressões e as imposições e o preconceito neste espaço social e cultural e um último segmento denominado no Recreio acontecia, que evidencia as memórias da vila operária.

3.1 Lazer, Transgressões e Imposições.

No conjunto de bens culturais produzidos por homens e mulheres de diversas faixas etárias e culturas diferentes, o espaço físico de uma construção pode constituir-se como testemunho na formação da memória histórica e na formação da identidade de uma comunidade.
Desta forma o local é testemunho sedimentado e acumulado dos modos de vida, não só daqueles que o conceberam, mas também dos que ali viveram através dos tempos e lhe conferiram usos e significados.
Neste contexto o Recreio do Trabalhador é um desses espaços, pois está carregado de sentimentos, de lembranças de atividades ali vivenciadas. Atividades cotidianas como eventos culturais e sociais que ocorriam periodicamente, ou então jogos de ping pong, dominó ou xadrez.
Além de diferente na aparência, como foi apontado no primeiro capítulo, o recreio se estabelecia como lugar de lazer, visto que os demais locais do complexo da CSN que haviam sido construídos na vila operária eram locais de trabalho. Mas, como se constituiu ou se inventou o lazer nas vilas operárias? O lazer era intrínseco ao cotidiano na vila?
Para discutir o lazer e cotidiano, houve a necessidade de dialogar com alguns autores que escrevem dentro de uma perspectiva da nova história cultural. Nessa perspectiva teórica Mafessolini[20] afirma que; “a vida cotidiana se dá numa relação de aparência”, Sendo o cotidiano um espaço de convivência diária dos operários mineiros, por isso salienta-se que nessas relações de sociabilidade, a “relação de aparência” que Mafessolini fala venha se manifestar.
Outras questões são levantadas por Mafessolini, como a idéia colocada por ele de que “cria-se uma arte de viver que têm como centro a distância que permite o jogo duplo”. Entretanto, será que a concepção de jogo duplo permeava as relações entre operários mineiros e empresa mineradora estatal?
Para responder esta questão, salienta-se que além do jogo duplo, o autor também fala também em astúcia. Para esse termo ele coloca como sendo “o resultado das atitudes e das situações cotidianas” pois ao lado daquele que transgride pode estar aquele que se conforma. Entendendo esse “conformismo” como tática, astúcia, pois o autor, diz:
Vemos nascer uma série de práticas originais nas quais de maneira “fluida” e sem agitação,cada individuo assegurar a soberania sobre sua própria  vida. é, portanto, na reduplicação, na pluralidade, que se situa a resistência e não no choque frontal.


3.2 O Recreio do Trabalhador como espaço de controle na vila operária.

 A construção de sedes recreativas foi comum nas vilas operárias mineiras, assim como foram comuns em vilas operárias direcionadas a outras atividades econômicas, diferentes da mineração. Maria Auxiliadora Guzzo de Decca[21] em seu estudo já mencionado anteriormente, afirma que “os meios operários foram vistos por instituições e grupos dirigentes, desde os fins do século XIX, como extremamente perniciosos para a ”moral e disciplina do trabalho” “(...). Hábitos operários no escasso tempo de lazer eram considerados vícios e a recreação do operariado era considerada “improdutiva”.
Desta forma Maria Auxiliadora pontua que “(...) edificaram todo um sistema destinado à recreação de quem era necessário reter e controlar na produção”. Sendo assim, além de necessário reter e controlar a mão de obra operária era preciso um controle nas formas de lazer que esse operariado desenvolvia. Então na busca desse controle, os capitalistas legitimaram toda “uma retórica (...) de ”um lazer mais saudável e produtivo” para o operariado no sentido de torná-lo mais “disciplinado e ordeiro”.
Nesta direção, a autora descreve as tentativas de “disciplinar o lazer“, sendo possível perceber em sua descrição questões presentes ao objeto de estudo (o Recreio do Trabalhador) como o patrocínio no futebol, ou seja, a empresa respaldava a formação de time de futebol de várzea com a participação dos operários, pois essa tática ocorria também na vila operária da Companhia Siderúrgica Nacional.
Neste sentido argumenta-se que a construção do Recreio ocorreu dois anos após a formação do “Itaúna Atlético clube” – IAC – este time de futebol disputava campeonatos regionais, portanto, dentro das colocações de Maria Auxiliadora,  pode-se inferir que o futebol foi  uma forma utilizada pela Companhia de disciplinar o lazer e que a construção do Recreio como sede recreativa foi uma forma de controlar, impor regras, moralidade, bons costumes, não somente aos operários, mas também a sua família.
Nessa direção emerge Michel Foucault [22], que aponta como “instituições de normas, a naturalização de verdades, as construções dentro das normas, que a verdade é colocada não no objeto, mas sobre ele”.
O Recreio do Trabalhador abrigava um salão principal onde se realizavam os bailes, salas de jogos, biblioteca, restaurante, e o bar. O bar do clube que funcionava diariamente era o local de encontro dos operários após o expediente da Companhia. Lá eles discutiam sobre o trabalho, futebol, as condições de vida, as novidades da vila, e também combinavam a “boca pequena” a ida na “zona do meretrício” da cidade vizinha, espaço visto como pecaminoso.
Os operários transgrediam as normas estabelecidas, e tinham consciência disto, portanto utilizavam táticas de resistência que não se constituíam em choque frontal, pois a prática de freqüentar a “zona do meretrício” foi encontrada em outras vilas operárias da região carbonífera, como sugere o estudo da historiadora Marli de Oliveira Costa[23].
Em seu estudo, Marli de Oliveira Costa, aponta que em Criciúma, na Vila Operária da Próspera “As mulheres dos mineiros apelavam para a autoridade do padre para poder controlar o comportamento dos maridos”.
Isso vêm demonstrar, nesses locais de lazer o preconceito de uma sociedade que rotulava, apontava e punia aquele que não se “enquadrasse” no “padrão estabelecido” por essa sociedade que vigiava atos e ações dos indivíduos. Margareth Rago[24], nesta mesma direção, analisando o espaço das vilas operárias de São Paulo coloca que nessas vilas “(...) estabelece-se todo um código de condutas que persegue o trabalhador em todos os espaços de sociabilidade, do trabalho ao lazer”.
Dessa forma salienta-se que no Recreio do Trabalhador a condutas dos indivíduos, mais especificadamente das mulheres, era vigiada para julgar ou condenar determinados comportamentos. 

3.3 Preconceito no espaço de sociabilidade.

No entanto, o preconceito da sociedade não se limitava àquele que estava fora do enquadramento de padrões estabelecidos. Outra prática preconceituosa foi a da divisão étnica. Essa divisão não se evidenciou apenas no Recreio do Trabalhador na Vila Operária da CSN, mas também em outras sociedades recreativas da região mineira, segundo informações do senhor Osvaldo Tancredo[25], integrante da banda American Night, que animava os bailes na região carbonífera.  Na vila operária da Companhia, como reportam os narradores que entrevistei da empresa mineradora, a divisão se dava por sede recreativa.
Utilizando-se de fontes como entrevistas e de pesquisa nas atas do clube, verificou-se que na vila da CSN foram construídas duas sedes recreativas; uma  para os operários não negros e  outra para os operários negros. Em outras vilas, onde não havia duas sedes, a separação entre negros e brancos nos bailes era feita por uma corda ou um tipo de cerca que marcava o limite de cada etnia, prática que ficou evidenciada em trabalho anterior do grupo de pesquisa Memória e Cultura do carvão[26].
Esta separação no meio do salão onde se realizavam os bailes, conforme informações do senhor Osvaldo Tancredo, na década de 1970 já não existia, foi sustentada até meados da década de 1960. Posteriormente, o negro habitante da vila operária que não tivesse duas sedes, precisava se deslocar para a vila que oferecia um clube para negros ou freqüentar os salões de baile de particulares. O que demonstra que a empresa mineradora reforçava a divisão étnica quando construía duas sedes recreativas.
Junto com a construção do Recreio do Trabalhador, criou-se uma sede recreativa chamada União Mineira para lazer dos operários negros, no entanto esta sede não teve uma construção específica e transformou-se uma casa de moradia da vila em sede recreativa.
Durante a pesquisa, alguns entrevistados falaram desta separação, sendo que cada um expressava sua opinião e, a cada opinião uma nova leitura da sociedade era vivenciada. Na entrevista do senhor Gilson Martins[27], que foi o primeiro presidente do Recreio do Trabalhador, pontuou-se que a construção de uma sede específica para os negros foi uma solicitação dos próprios negros, porque esses não se “sentiam bem em freqüentar o mesmo lugar que os brancos”.
Nesta direção, no oficio de no. 1 de 05.12.1952 enviado ao senhor Fernando Fonseca de Araújo, chefe do DSS/S (departamento de serviço social setor) de Siderópolis comunicando a decisão de se construir sedes diferenciadas, encontra-se que: 
A terceira sede foi estabelecida, não tanto pela distância, mas especialmente pela insistência dos homens de cor em ter uma sede onde pudessem manter suas atividades sociais em Siderópolis, já que se sentem deslocados entre os restantes serventuários. Toda argumentação apresentada por nós foi vencida por esta afirmação. Os homens de cor ficariam privados de festas e bailes, pois definitivamente não freqüentariam as outras sedes. Acreditamos que, (...) gradativamente poderemos eliminar em Siderópolis esta separação instável de cores. Não encontramos outra solução no presente, pois é certo que a união forçada não nos aproximará da solução almejada.


Esse documento pode ser analisado de duas formas: a partir da fala de Mafessolini[28], sendo que a posição dos negros em relação a ter um clube recreativo próprio implicava em tornar uma situação de discriminação, pois o negro sabia-se discriminado por atitudes e situações cotidianas dentro daquela sociedade. Portanto em tática de resistência, que não o choque frontal, mas que lhe garantiria a soberania sobre sua própria vida, ou das ações daquele que domina, o ofício citado estaria ocultando uma prática não legítima, mas naturalizada como tal, muito freqüente no período em questão, e que ainda se evidenciam na sociedade.
Portanto, os vestígios mostrados pela fonte pesquisada deixam um viés para estudos posteriores, para serem confrontadas com outras fontes, de uma questão vivenciada e experimentada por homens e mulheres que traziam na cor de sua pele a marca da diferença, num período onde as diferenças eram vistas como inferioridades.
É importante ressaltar que além do preconceito étnico presente nesta sociedade, as mulheres também eram alvos de vigilância e punição, pois vigiava-se o namoro dentro da sede recreativa, e puniam-se as mulheres acusadas pelos homens, de não serem mais “direitas”.
Nesta direção, as palavras de seu Gilson Martins evidenciam o controle da sociedade sobre os indivíduos: “(...) uma moça quando tinha relação com o namorado não entrava mais no clube”.  Quando questionado sobre essa afirmação em relação à moça mencionada ele respondeu: “(...) o lugar era pequeno e todo mundo sabia”.
Numa outra situação falada pelo entrevistado, ficou evidente que as normas colocadas pelo clube não tinham respaldo legal. Gilson Martins pontua que:
Um casal chegou para entrar no baile, e já passava da meia noite. O fiscal barrou na porta. A gente sabia que a moça não era direita. Não ia deixar entrar. Só que a moça foi dar parte no juiz em urussanga. O fiscal foi chamado pelo juiz para dar explicações. Foi instruído a dizer para o juiz que ela não entrou porque já passava da meia noite e o rapaz não era sócio do clube.


Outro momento lembrado pelo senhor Gilson Martins foi à tentativa da diretora social, uma assistente social vinda do Rio de Janeiro para trabalhar na CSN, de interferir nas normas de conduta do clube:
(...) tinha dona Vilma que era diretora social, veio do Rio. Ela queria botar uma moça lá a força, que essa moça entrasse. Essa moça já tinha tido um caso com um rapaz. O problema foi eu com ela. Eu conversei, eu não sou contra, não tem nada. Mas se a senhora botar essa moça lá no salão, ela entra numa porta e as outras vão todas embora.


Perguntei então o motivo alegado pela assistente social para tal tentativa, e a resposta foi “a dona Vilma queria integrar essa moça na sociedade”. Desta forma percebe-se que o entendimento de sociedade de dona Vilma transcendia a  realidade vivenciada por aquela comunidade.

 

3.4 No espaço cultural


Não posso deixar de mencionar que no Recreio do Trabalhador também se assistia cinema. Na entrevista com o srº. Osvaldo Tancredo ele contou como funcionava o cinema:
A CSN também no final dos anos 60 adquiriu máquinas e colocava-se uma tela, era cinemascope, tela menor que subia e descia. Lá nós assistíamos a semana toda cinema. Tínhamos, inclusive, uma programação mensal dos filmes. E nos finais de semana quando não tinha baile, o cinema funcionava (...)


Outra afirmação neste sentido diz que:
(...) o Recreio do Trabalhador apresentava sessões às noites de terça–feira, quinta-feira e sábado quando não aconteciam bailes. Haviam seriados tradicionais, (...) dos mais variados tipos. Filmes brasileiros eram uma constante, principalmente as “chanchadas”.[29] (...).[30]


A implantação de cinema na sede recreativa, como espaço de entretenimento, pode ser entendida como estratégia para evitar que a família operária mineira saísse da “Vila Operária” para assistir os filmes no cinema do centro da cidade ou outras atividades.
Essa estratégia de controle era por diversas vezes ludibriada pelos operários, porém a Cia se apoderou desta subversão e cedeu o ônibus da empresa para levar os operários a assistirem o cinema no centro da cidade. Percebe-se, então que a concepção de “jogo duplo” colocada por Mafessolini permeava as relações entre o operário mineiro e empresa mineradora estatal, pois a empresa incorporava a compreensão e o paternalismo ao colocar o transporte a disposição dos operários, mas com o intuito de vigiar, e o operário garantia a soberania sobre seus atos, na intenção de não se deixar moldar. 





3.5 No interior do Recreio acontecia...


No filme “Narradores de Jave”,[31] os moradores da pequena cidade precisavam visitar suas  memórias e encontrar a história dos primeiros moradores. Nessa história a cidade precisava provar que tinha um valor de patrimônio histórico, pois somente assim a cidade estaria livre de ser inundada com a represa da hidrelétrica que ali viria se instalar.
Da mesma forma, os narradores de Fiorita, contam suas lembranças, talvez na tentativa de alimentar um passado que (...) não reconhece o seu lugar, está sempre no presente” [32], passado que marcou a vida de meninos e meninas - jovens - que viviam numa vila com regras de condutas elaboradas por adultos, e muitas vezes, não entendido e portanto ludibriado  pelos adolescentes. Era o namoro, a paquera, os olhares enamorados, tudo muito discreto, pois a censura era atuante.
Além da censura e disciplina existia no Recreio regras de formalidades na elaboração de seus eventos. Por exemplo, para a realização de um baile, era escolhido um tema específico e a temática selecionada era acompanhada da indumentária dos participantes, da decoração do salão, e do uniforme da banda, ou seja, os músicos da banda, necessariamente teriam que estar vestidos de acordo com o tema do baile.
Em entrevista com o professor Kika [33], os bailes lembrados foram de debutantes, com o traje social (camisa, gravata, paletó – vestido longo, cabelos alinhados, maquiagem), o baile junino, no qual a peça que não poderia faltar era o lenço no pescoço, que era vendido junto com o bilhete de entrada para aqueles desavisados, na secretaria do clube. Havia também o baile de carnaval, com blocos carnavalescos, que fantasiados faziam coreografia no salão.
Durante a entrevista o professor lembrou de um momento específico dos bailes: o intervalo. Esse momento comentado pelo professor que como músico, tocava nos bailes do Recreio do trabalhador, era o momento de chegar perto da menina que se estava namorando, pegar nas mãos, conversar, sendo no intervalo que os jovens com interesses comuns aproveitavam para se conhecer, conversar, e muitas vezes, tentar sair do salão para um namoro mais quente e discreto.
Essa tentativa que se entende como burladora, aparece na fala do senhor Gilson Martins como “difícil de acontecer”, pois a vigilância exercida pelos diretores do clube, não permitia a saída de casais de namorados, ou então de moças sozinhas, a não ser para ir embora.
Neste contexto, Edson[34], morador da comunidade de Rio Fiorita, e colaborador da pesquisa, relatou em sua entrevista que os pais deixavam as filhas na porta do clube e a partir dali a responsabilidade na vigilância com as garotas recaia sobre dos diretores. Essa prática era vista como confiança mútua entre os habitantes daquela localidade, ou seja, o zelo pelo ser querido é estendido para além das quatro paredes do lar e da família.  
No entanto fica evidenciado que as normas eram de alguma forma transgredidas, visto que um número considerável de penalidade foi registrado, principalmente durante a década de 1980, tendo como motivo “(...) ter praticado ato indisciplinar não aceitável pela sociedade, durante o transcorrer do baile (...)”, sendo que esta penalidade citada foi imposta a uma moça.
Argumenta-se que a vigilância também era exercida pela polícia, pois nas fontes encontrou-se registro de diferentes períodos solicitando policiamento tanto no futebol como nos bailes.
A pesquisa mostrou, ainda uma ativa participação dos moradores nas atividades disponíveis no Recreio.  Observou-se que num relatório do ano de 1964 que de julho a dezembro houve 1.546 participantes no jogo de snoocker, 579 de ping pong, 530 de dama, 5.223 de dominó, e 131 freqüentaram a biblioteca.
Destes, o fato de o Recreio possuir uma biblioteca chamou a atenção e foi surpreendente constatar que essa biblioteca possuía algumas obras, ainda hoje, consideradas clássicas, por exemplo: Os Miseráveis de Vitor Hugo, Germinal de Emile Zola, ou então obras de Alexandre Dumas, Miguel de Cervantes, Julio Werne, Shakespeare. Num levantamento feito em 31.12.1959, essa biblioteca possuía 657 livros.
Outra informação relevante diz respeito a assinatura de um jornal chamado “Atualidades Francesas”, pois encontrou-se um oficio solicitando a permissão para essa assinatura, colocando que era do interesse dos empregados ter esse informativo a seu dispor. Essa informação pode ser indício do desejo de alguns operários que estavam em processo de alfabetização, pois segundo as fontes em 1959 o curso de alfabetização contava com 24 inscritos.
Entre as atividades que aconteciam no Recreio do Trabalhador, duas foram registradas na entrevista com o senhor Valmir Cardoso, Dona Joaquina, sua esposa e a vizinha Dona Laura[35].
O senhor Valmir comenta que “passava muitos filmes bons. Vinha artista de fora aqui no recreio, eles faziam aquelas festas; a siderúrgica mandava buscar os artistas, vinha mágico... (...)”.
Dona Laura lembra:
(...) veio às mulatas do Sargenteli aqui (...) uma vez passei vergonha porque elas foram todas passar o rio e iam puxando a roupa para não molhar na água, e eu tava com medo, porque eu tava com o Francisco e tinha o compadre Gregório e eu tinha vergonha que elas estavam levantando o vestido”.


A observação de Dona Laura deixa margem para pensar-se que as mulatas do Sargenteli usavam saias compridas, mas será que era desta forma que se apresentavam no palco?
Outro episódio lembrado foi à vinda do professor de hipnotismo Rosman, em 1958. Uma das lembranças que trouxe o sorriso nos rostos dos narradores foi o comentário jocoso sobre o assunto “a mulher do engenheiro Álvaro dançava no palco, (hipnotizada) porque ele hipnotizava”.
O Senhor Valmir lembra que “(...) Tinha matiné, as crianças iam o matiné”. Porém não era somente nos matinés que as crianças iam, pois nos bailes noturnos elas também participavam. Essa participação acontecia pelos olhares através das janelas aonde as meninas que acompanhavam as moças não adentravam no clube. Estas meninas ficavam na ponta dos pés e observavam o baile através das frestas da porta de vidro, por entre a “cortina vermelha” entreabertas ou não, o que permitia o olhar curioso da garotinha ou sua imaginação de conhecer um pouco do mundo adulto.
Essas lembranças estão cristalizadas na memória da narradora Sonia[36], que ainda se emociona em recordá-las, diz ela:
(...) eu lembro que eu ficava pendurada, a janela era bem alta daí tinha uma beiradinha, eu subia ou então a gente levava um toco de madeira e botava para subir em cima para enxergar dentro do recreio e às vezes ali tem a parte que era porta só que as caras botavam aquela cortina vermelha que a gente não conseguia ver nada (...).

Esses momentos de lembranças emocionadas, incorporadas, recontadas são refeitas quando o provocador da memória, é visto e sentido não apenas como uma construção material, mas como um “lugar de memória”.
Nesta direção é importante mencionar as ocasiões de comemoração de aniversário da Companhia. Observe-se que no dia 9 de abril de 1962 , foram expedidos convites com os seguintes dizeres:
Carta convite
A Cia Siderúrgica Nacional convida os seus empregados e suas exmas famílias para as festividades de seu 21º aniversário, a serem realizadas em Siderópolis conforme programação abaixo:
Dia 8 - 20h: partida de voleibol entre as equipes da Vila residencial X Beluno, em disputa de jogo de camisa. Dia 9 -8h celebração do santo oficio da missa na capela de Santa Bárbara. As 9:30 entrega de prêmios aos empregados que completaram 10 anos de bons serviços prestados a CSN no Recreio do Trabalhador. As 11h coquetel no Recreio do Trabalhador aos empregados e autoridades. 14h Hora da arte no recreio. 15:30 jogo amistoso (obs: com portões abertos), as 18h sessão cinematográfica gratuita no recreio, para menores de 14 anos. As 20h sessão cinematográfica gratuita para os empregados e dependentes maiores de 14 anos.


A leitura deste convite, assim como outros documentos pesquisados do clube deixaram dúvidas em relação a gratuidade de algumas atividades recreativas oferecidas pela Cia no Recreio do Trabalhador. Observe-se que se em dia de festividades anunciavam a gratuidade das atividades no Recreio do Trabalhador, como exemplo a entrada no cinema, como consta na carta convite, pode significar que em outras ocasiões, os operários pagavam para participar das mesmas; idéia que não encontra respaldo nos entrevistados, mas que as fontes escritas trazem fortes indícios.
Como exemplo, pode-se citar os brinquedos encomendados pela Cia junto à “Manufatura dos Brinquedos Estrelas S. A“, para os pais presentearem as crianças no natal que eram descontados na folha de pagamento, no seu valor integral, inclusive com frete, imposto, embalagens, e também “(...) os impostos devidos a CSN para desconto na folha do mês de dezembro”.
Portanto, se os brinquedos eram pagos, para as crianças pouco importava, afinal era natal!  A música que tocava no alto-falante do Recreio do Trabalhador logo pela manhã, não deixava dúvidas. Toda a comunidade acordava com o som natalino. Edson lembrou que os alto falantes colocados na parte externa das paredes do Recreio permitiam que o som ou a música natalina chegasse em todos os lares da comunidade, acordando crianças e adultos lembrando a todos do nascimento do menino Jesus.
Diante destes expostos, segue uma seqüência de fotos que demonstram as argüições feitas no decorre deste estudo, observe-se:

Figura 18: Homenagem ao dia dos pais (12/08/1962)
   
Fonte: Arquivo Histórico de Tubarão









Figura 19: Semana da criança (16/10/1959)
Fonte: Arquivo Histórico de Tubarão




Figura 20:Semana da criança (1959)
Fonte: Arquivo Histórico de Tubarão

Figura 21: Baile Junino (1968)
Fonte: Arquivo Histórico de Tubarão


Figura 22: Baile de Carnaval (Fev de 1965)
Fonte: Arquivo Histórico de Tubarão


Figura 23: Carnaval infantil (anos de 1970)
Fonte: Arquivo Particular de Gilson Martins.


Figura  24: Baile de Debutantes (Anos de 1960)
Fonte: Arquivo Particular de Gilson Martins.


Figura 25 :Baile de Debutantes (Anos de 1960)
Fonte: Arquivo Particular de Gilson Martins.




Figura 26: Comemoração do natal no Recreio do Trabalhador
Fonte: Arquivo Particular de Gilson Martins.


Figura 27: Atividade  no Recreio do Trabalhador
Fonte: Arquivo Particular de Gilson Martins.







CONSIDERAÇÕES FINAIS


A família operária da Vila da CSN em Siderópolis criou, recriou, participou, elaborou, reelaborou, as mais variadas formas de lazer no Recreio do Trabalhador. Na vila a comunidade construiu uma rede de sociabilidade por meio deste espaço que a empresa criou num referencial de paternalismo, pois da condição de operário da CSN apropriou-se uma identidade que julgava privilegiada.
No entanto esse envolvimento, esse entrelaçamento daquela comunidade foi vítima do tempo e o tempo não pára, deixou as lembranças, a saudade,  e seguiu adiante. Por motivos diversos muitos alçaram outros vôos, jovens foram em busca de outras oportunidades, aposentados voltaram para as cidades de onde vieram quando jovens, outros permanecem na localidade.
A Cia foi extinta no final dos anos de 1989, por determinação do governo  Fernando Collor de Melo e atualmente parte do local que comportava o complexo da CSN foi reconfigurado, reelaborado para outras funções, outras representações gerenciados pela iniciativa privada. A construção que abrigava o escritório central esta fisicamente abandonada. As ruínas deste local retratam ações de uma sociedade pragmática e utilitária que abandona os lugares quando, na concepção desta sociedade, esses lugares já não lhes são mais úteis.
O Recreio do Trabalhador, após um período de abandono, foi apropriado pela comunidade que lhe devolveu o uso para o lazer. Outra geração, outros jovens estão colocando no Recreio do Trabalhador seu jeito de viver, estão o adaptando ao seu modo de vida, redefinindo a memória coletiva daquela comunidade.
Entretanto, quando fazem uso do Recreio, em momentos de lazer, inconscientemente ou não  provocam lembranças, David Lowenthal[37] afirma  que estamos constantemente em contato com algum momento do passado, pois “(...) somente concentração intensa numa ocupação imediata pode impedir o passado de vir espontaneamente à mente”.
Desta forma os narradores de Fiorita, seguem contando sua história. História que não  fica dissociada da Companhia Siderúrgica Nacional, na memória daqueles que com ela conviveram em seu cotidiano, pois de acordo com Eclêa Bosi[38] ecoa “As lembranças (...) tem assento nas pedras da cidade”,  “As pedras da cidade, enquanto permanecem , sustentam a memória”.
Quantas lembranças ficaram adormecidas! Quantas foram recordadas!
A memória é assim, seletiva. Homens e mulheres que trazem suas íntimas  vivências que pertencem ao passado, mas que se manifestam quando são instigadas, quando lhe é oferecida a oportunidade de refazê-las.
Portanto, preservar o  Recreio do Trabalhador como patrimônio histórico é dar visibilidade às lembranças, é preservar um patrimônio imaterial que nos permite a condição humana: a memória .



REFERÊNCIAS



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Documentos do acervo do Recreio do Trabalhador  e do acervo do grupo de pesquisa Memória e Cultura do carvão.

Nota de fornecimento material.
Requisições de compras  de materiais da sede recreativa Recreio do Trabalhador.
Recibos de pagamentos por serviço prestado à sede.
Autorização para desconto em folha de pagamento dos serventuários da CSN.
Programação de atividades mensal / anual do Recreio do trabalhador
Inventário de bens do Recreio do Trabalhador
Ofícios enviados e recebidos.
Convocações
Correspondências recebidas pela sede recreativa.
Anúncios publicitários.
Punições a sócios do Recreio do Trabalhador.
Ficha de bufet do restaurante e bar do Recreio do Trabalhador.
Ata do Itaúna Atlético clube.

Entrevistas


BERNARDO, Edson. Ex-funcionário da CSN. Foi  diretor do Recreio do Trabalhador no final dos anos 1970 e meados de 1980. morador de Siderópolis. Nasceu em Siderópolis em 31/07/1957.Entrevista concedida a Roseli T. Bernardo em 20/10/05.

BITENCOURT, Laura. Moradora da comunidade de Rio Fiorita. Nasceu em Imaruí em 14/05/1928. Entrevista concedida a Roseli T.Bernardo em 17/04/04.

CARDOSO Joaquina da Rocha. Esposa de Valmir Cardoso. Nasceu em Maracajá em 08/03/1934.

CARDOSO,Valmir Cardoso. Ex-funcionário da CSN. Morador da comunidade de Rio Fiorita, nasceu Imbituba em 11/05/1934.
MARTINS, Gilson. Ex-funcionário da CSN e Foi primeiro presidente do  Recreio do Trabalhador. Nasceu em Imbituba em 18/05/1923. Entrevista concedida a Roseli Bernardo em 31.08.05.

ROSSO, Rosemar Romualdo. Diretor da E.E.B. Sílvio Ferraro. Morador de Siderópolis. Nasceu em Siderópolis em 14/02/1959. Entrevista concedida a Roseli T. Bernardo em 07.10.05.

SEBBEN, Sônia Maria B. ex-moradora da comunidade de Rio Fiorita, nasceu em Siderópolis em 01/11/1955 . Entrevista concedida em 20.10.2005, para Roseli T.Bernardo.

TANCREDO, Osvaldo.Morador de Siderópolis. Foi musico da banda American Night de Siderópolis. Nasceu em 25/09/1945 Entrevista concedida a Roseli T.Bernardo em 07.03.2003



[1]CUNHA, Maria Clementina Pereira. Patrimônio Histórico e cidadania: uma discussão necessária. Secretaria Municipal de Cultura. Departamento do Patrimônio Histórico. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: DHF, 1992.
[2] SANTOS, Myrian Sepúlvera dos Santos. Do Museu imperial: a construção do império pela República. In: Memória e patrimônio. Org. ABREU, Regina; CHAGAS, Mario. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
[3] CHAUI, Marilena. Política Cultural, Cultura Política e Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal de Cultura. Departamento do Patrimônio Histórico. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: DHF, 1992.

[4] FERNANDES, José Ricardo Oria. Revista Brasileira de História. Memória, História, Historiografia. In: Educação Patrimonial e Cidadania: uma proposta alternativa para o ensino da história. Dossiê Ensino da História. v.13, no.25,25. ANPHU. Ed. Marco Zero, São Paulo, 1992.  
[5] Ibidem nota 05.  
[6] GONÇALVES José Ricardo Santos. O patrimônio como categoria de pensamento. In: Memória e patrimônio.  Org. ABREU, Regina; CHAGAS, Mario. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
[7] SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. O pesadelo da Amnésia Coletiva. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.23, n 8, p.16-32, 1993.

[8] Esse formato de vila operária não era exclusividade de Fiorita, mas sim um modelo vindo da Inglaterra e que foi implantado nas vilas operárias no Brasil, no inicio da industrialização.
[9] Ver fotos no final do capítulo II.
[10] HALBWACHS, Maurice.  A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.p.25-52.
[11] NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares.   In: Revista do programa de história – PUC/SP, 1993.
[12] Ibidem nota 11.
[13] DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. Ávida Fora das Fábricas: Cotidiano Operário em São Paulo 1920/1934. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
[14] SANT’ANA , Denise Bernuzzi. O prazer justificado. História e Lazer (São Paulo 1969/1979). Ed. Marco Zero. São Paulo, 1994.
[15] Ibidem nota 14.
[16] Ibidem nota 13.
[17] SANTINI, Rita de cássia Giraldi. Dimensões do lazer e da recreação. Questões espaciais, sociais e psicológicas. São Paulo: Angeloti, 1993.
[18] Ibidem nota 17.
[19] DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo.  A vida fora das fábricas: Cotidiano operário em São Paulo 1920/1934.  São Paulo: Paz e terra, 1987.

[20] MAFESSOLINI, Michel. A conquista do presente. Natal:Argos,2001.
[21] DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo.  A vida fora das fábricas: Cotidiano operário em São Paulo 1920/1934.  São Paulo: Paz e terra, 1987.
[22] Foucault, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de janeiro: Nau Ed.1996.
[23] COSTA, Marli de Oliveira. “ Artes de viver” recriando e reinventando espaços – memórias das famílias operárias mineira Próspera Criciúma(1945-1961). Dissertação –UFSC, 1999.
[24] RAGO, Margareth.  Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3ª. Ed. 1997. Cap. IV. A desvalorização do espaço urbano.
[25] TANCREDO Osvaldo. Entrevista concedida em 07.03.2003.
[26] BERNARDO, Roseli.   O tempo e os espaços de entretenimento das famílias operárias mineiras. In: Memória e Cultura do Carvão em Santa Catarina. Ed. Cidade Futura. 
[27]MARTINS Gilson. Ex-funcionário da CSN e membro da diretoria do Recreio do Trabalhador. Entrevista concedida a Roseli Bernardo em 31.08.05.
[28] MAFESSOLINI, Michel. A Conquista do Presente. Natal: Argos, 2001.
[29]   Chanchada – filmes, peças ou espetáculos com sátira e deboches.
[30] BERNARDO, Rosania Terezinha. Movimentos Culturais: Tradições transformadas. Especialização em Metodologia de Ensino e Pesquisa em Educação Artística. Faculdades Integradas de Amparo. 2001.

[31] Narradores de Jave. Drama. Direção: Eliane Caffé. Lançamento 2003. Distribuição: Riofilme.
[32] QUINTANA, Mario. Da Riqueza de Estilos. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1983.
[33] ROSSO, Rosemar Romualdo -entrevista concedida a Roseli Terezinha Bernardo em 07.10.05.
[34] BERNARDO, Edson. Foi diretor do Recreio do Trabalhador no final dos anos 1970 e meados de 1980. Entrevista concedida em 20/10/05.
[35] Valmir Cardoso, Joaquina Cardoso e Laura Bitencourt. Entrevista concedida a Roseli T.Bernardo em 17/04/04, Siderópolis.
[36] SEBBEN Sônia Maria B. Ex-moradora da comunidade. Entrevista cedida em 20.10.05
[37] LOWENTHAL, David. Como conhecemos o passado. (tradução de Lucia Haddad). Projeto História/PUC. São Paulo, 1998.  Pág. 64.
[38] BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembrança de velhos. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 1987.