Arquivo da família Artur Kestering – Siderópolis – SC.
Artur Kestering, filho de
Henrique Kestering e Romana Lazzaris Kestering, nasceu em 28 de julho de 1931
na cidade de Criciúma - SC. Casou-se no dia 20 de abril de 1952 com Mafalda Trento,
e desta união nasceram nove filhos: Maria Jucélia, Rogério Henrique, Maria Jucira,
Robson Artur, Rodnei Ernani, Roberto, Rodolfo Luiz, Gladys Lenuzia e Ghisela.[1]
Kestering, com 28 anos de idade,
ingressou na vida política em 30 de agosto de 1959, na primeira eleição
realizada em Siderópolis - SC, como candidato a vereador pela União Democrática
Nacional (UDN), obtendo 136 votos, sendo o sexto candidato mais votado pela
sigla udenista, ficando com a terceira suplência do partido.[2] Inconformado
com a derrota e com sua agremiação partidária, Artur não concorreu nas duas eleições
municipais seguintes.
Nas eleições de 7 de outubro de
1962, para a Câmara dos Deputados, houve uma discordância entre os dirigentes
da UDN local, notadamente no ambiente da Carbonífera Treviso S.A, o que
possibilitou a Kestering prestar apoio ao candidato Álvaro Catão, seguindo
orientações de Oberon da Fonseca Estrazulas e do Engenheiro Sebastião Toledo
dos Santos,[3]
em detrimento do candidato Diomício Freitas, que era apoiado pelo líder
político udenista em Siderópolis, Hugo Stopazzolli, selando desta forma sua
saída do partido.[4]
O retorno vitorioso do político
Artur aconteceu na eleição municipal realizada em 15 de novembro de 1972, agora
como filiado do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), obtendo a segunda
melhor votação para vereador dentre todos os candidatos do partido - 391
sufrágios[5]- com o
apoio fundamental dos mineiros da Carbonífera Treviso S.A.[6] Seu
partido, o MDB, sofreu um grande revés nesta eleição, uma vez que a Aliança
Renovadora Nacional (Arena) elegeu cinco dos sete vereadores para o legislativo
sideropolitano. Na mesma eleição, a vitória de Plínio Bonassa - Arena II – para
prefeito de Siderópolis, derrotando o candidato da Arena I, Hugo Stopazzolli, até
então o grande líder político da cidade, teve o apoio significativo do MDB
local, o que possibilitou uma participação importante dos vereadores do MDB na
direção da casa legislativa. A posse de Artur Kestering, juntamente com seus
pares Carlos Antonio Remor (Arena II), Dilnei Rossa (Arena I), Ivori Valmor De
Lorenzi (Arena I), Mário Piacentini (Arena II), Olávio Leopoldo Rovaris (Arena
II) e Oli Manoel Rodrigues (MDB), aconteceu no dia 31 de janeiro de 1973, e ato
contínuo, através de eleição entre os nobres edis, por unanimidade, foi
constituída a mesa diretora da seguinte forma: Presidente Olávio Leopoldo
Rovaris, Vice-presidente Artur Kestering, Secretário Oli Manoel Rodrigues e
Vice-secretário Mario Piacentini.[7]
O Diretório Municipal da Arena de Siderópolis –
diga-se Arena I -, em 5 de dezembro de 1972, numa ação judicial junto ao Tribunal
Regional Eleitoral de Santa Catarina (TER - SC), requereu a extinção do mandato
de Artur Kestering por filiação fora do prazo junto ao MDB, bem como a sua não
diplomação, o que foi negado por unanimidades de votos pelos juízes do TRE –
SC, em 20 de fevereiro de 1973.[8]
Na eleição municipal de 15 de novembro de 1976, Artur
conseguiu reeleger-se vereador, obtendo 231 votos. Artur Kestering, José
Geraldo Cardoso de Bitencourt, Alcides Zanelatto e Estevão Emílio de Souza
foram os vereadores eleitos pelo MDB para comporem na 5ª legislatura da Câmara
Municipal de Siderópolis. A oposição em Siderópolis começava a tomar corpo,
perdendo a maioria no legislativo por somente uma cadeira.
Kestering foi candidato à
prefeito pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB 1, tendo na
chapa Angelo Scaini na condição de candidato a vice-prefeito, nas eleições de
15 de novembro de 1982. Com 740 sufrágios obtidos na apuração foi o último dos
quatro candidatos postulantes ao cargo executivo. Neste pleito eleitoral,
Dilnei Rossa - candidato do Partido Democrático Social – PDS I - foi o sexto
prefeito eleito pelo voto popular para comandar o município de Siderópolis,
juntamente com o seu vice-prefeito Sílvio Levatti. Somente na eleição de 15 de
novembro de 1988, o PMDB conseguiu eleger José Antônio Périco para prefeito de
Siderópolis, uma vitória da oposição esperada desde 3 de junho de 1964, quando o primeiro prefeito eleito pelo voto popular Manoel Minelvina Garcia - Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) – no início da ditadura militar, foi obrigado a
renunciar o mandato.[9]
Artur, nos seus 52 anos de vida,
teve uma participação social muito ativa principalmente quando exerceu os mandatos
de vereador. Foi um grande defensor do ensino público gratuito e incansável colaborador
do Colégio Santa Bárbara, educandário idealizado em 1964 pelo grande homem
público Renato Mellilo. Era uma escola voltada para educação de alunos carentes
e trabalhadores, com aulas no período noturno.[10] Foi
fundador e membro ativo integrante do Lions Clube de Siderópolis e presidente
do Grêmio Esportivo Treviso[11], equipe
futebolística grande rival do Itaúna Atlético Clube.
Portador
da Carteira de Trabalho do Menor nº 3969 Série 1ª – 16ª D. R. T, tem seu
primeiro emprego na Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, em 31 de dezembro de
1946, com 15 anos de idade, na função de Operário na Secção Céu Aberto, com salário
inicial de Cr$ 2,40 por hora. Trabalhou na CSN até 21 de agosto de 1953.[12] Kestering
em 1953 participou da construção do Palácio Iguaçu, sede atual do governo
paranaense em Curitiba, onde trabalhou como carpinteiro[13]. Posteriormente,
em 1º de abril de 1955, ingressou na Carbonífera Treviso S.A até 30 de setembro
de 1978, exercendo a profissão de operador de máquina, percebendo inicialmente a
quantia de Cr$ 8,00 por hora,[14] e onde se
aposentou.
Mário Piacentini, vereador pela Arena representando o distrito de
Treviso, eleito em 15/11/1972, lembra muito bem da seriedade e capacidade de Artur
Kestering durante a quarta legislatura da Câmara de Vereadores de Siderópolis.
Afirma Mário que, independente de partido político, existia uma grande amizade
entre as famílias Piacentini e a família de Mafalda Trento – esposa de Artur - na
localidade de Santa Cruz. Rememora também o período muito difícil para todos os
moradores do município depois da grande enchente de 1974, quando a Câmara de Vereadores
se mostrou parceira com o povo diante de todas as necessidades urgentes que
exigiam no momento e após a catástrofe. “Posso dizer que Artur foi um político
capaz, numa época que não era necessário comprar uma eleição e vereador não
tinha remuneração nenhuma”.[15]
José Geraldo Cardoso de
Bitencourt, vereador eleito pelo MDB em 15 de novembro de 1976, lembra muito
bem da atuação do nobre edil Artur Kestering: “ele estava ciente das funções de
um vereador, que era de legislar e fiscalizar o poder executivo, o que fazia
muito bem em plenário, sempre solicitando apartes e cobrando esclarecimentos de
forma objetiva de todas as ações tomadas pelo alcaide da cidade”. José Geraldo
afirma que o companheiro Artur exerceu a função de vereador na sua verdadeira
essência, representando condignamente quem o elegeu e a todos os habitantes de
Siderópolis.[16]
Grande amigo e companheiro emedebista, Lúcio
Ubialli, destaca a importância de Artur Kestering para o MDB nos primeiros anos
de sua criação, sempre disposto a manter o partido, inclusive colocando
dinheiro do próprio bolso, para manter viva a oposição contra os mandatários
citadinos, adeptos do regime militar, com um único propósito que era a volta do
Estado Democrático de Direito para o Brasil.[17]
Gladys lembra, com
grande saudade, do seu querido pai: “Sua vida foi marcada por três paixões: a
família, o trabalho e a política. Na família como provedor do sustento sempre
buscou dar o melhor para todos nós, filhos, e foi sempre um exemplo de pai,
rígido nas suas determinações, mas muito amável e com um coração que era
imenso. Educou 9 filhos e deixou de herança o exemplo de seu caráter e sua
honestidade. No trabalho posso falar de seu último emprego na Carbonífera
Treviso, em que sempre desempenhou sua função com dedicação e profissionalismo.
Era muito respeitado por seus superiores, mesmo sem formação acadêmica, e sua
palavra muitas vezes prevalecia dentre as tomadas de decisões, quando se
tratava da “MARION”, a qual se dedicava
24 horas por dia. Dedicado aos que eram seus companheiros de trabalho, sempre
buscou também ver o lado social da família de seus amigos de jornada, pois em
suas conversas em casa sempre ouvia meu pai dizer: fulano talvez não seja muito produtivo no
trabalho, mas ele tem uma família para criar. Na política fez muitos amigos que
guardam até hoje lembranças de sua trajetória como vereador e membro atuante do
PMDB, e sempre dizia a nós filhos que tinha adversários políticos e não inimigos.
Meu pai era um homem de princípios, sempre lutou pelas causas sociais em
benefício dos habitantes do município de Siderópolis”.[18]
Artur Kestering, vitimado por um acidente
automobilístico, veio a óbito em 14 de julho de 1984, na Estrada Geral - Bairro
Rio Fiorita - Siderópolis[19] (hoje Avenida
Porfírio Feltrin), e pelos serviços prestados à comunidade teve seu nome
perpetuado na rua onde morava, num reconhecimento das forças políticas
organizadas da cidade.
Nilso
Dassi – Licenciado e Bacharel em História pela Unesc e membro da Academia de
Letras e Artes de Siderópolis – ALASI, onde ocupa a cadeira nº 2.
Primavera
de 2013.
[1]Lazzaris, Enemésio A., Dom. Família
Lazzaris Pascai: tributo a um imigrante. Siderópolis, SC. 2010, p. 103.
[2]DASSI, Nilso. Nova Belluno,
1891 – Siderópolis, 1943. Siderópolis, SC. 2011, p. 128.
[3]Depoimento de José Carlos Webster, em 1º mai. 2013. Siderópolis,
SC.
[4]Depoimento de Paulo Antônio Webster, em 28 abr. 2013. Siderópolis,
SC.
[5]DASSI, 2011, p. 133 – 134.
[6] Depoimento de Paulo Antônio Webster, em 28 abr. 2013. Siderópolis,
SC.
[7]Livro de Atas nº 03 – Arquivo da Câmara Municipal de Siderópolis.
Siderópolis, SC. p. 64v e 65.
[8] Acórdão nº 6025. Disponível em: <
www.tresc.gov.br/site/fileadmin/arquivos/legjurisp/.../1973/
6025_.pdf >. Acesso em 10 mai.
2013.
[9] Pode-se constatar em todos os municípios vizinhos que os primeiros
prefeitos eleitos e já falecidos tiveram prontamente homenagens conferidas
pelos poderes constituídos das cidades. A exceção, lamentavelmente, acontece em
Siderópolis, pela omissão dos mandatários atuais que relutam em prestar uma homenagem,
mais que merecida, ao primeiro prefeito eleito pelo voto popular. Manoel Minelvina Garcia merece uma ou
mais homenagens dos sideropolitanos.
[10] Depoimento de Brás João Elias, em 8 set. 2012.
Criciúma, SC.
[11] Em depoimento de Irani Dias, em 1º set. 2013, que foi atleta do
Grêmio Esportivo Treviso durante a presidência de Artur Kestering, e qualifica
como muito brilhante o período de comando do dirigente esportivo.
[12] Carteira de Trabalho do Menor de Artur Kestering. Arquivo
particular da família Artur Kestering. Siderópolis, SC.
[13] Forças Vivas da Nação. Estado de Santa Catarina. Nossos Políticos.
1980, p. 391.
[14] Carteira Profissional de Artur Kestering. Arquivo particular da
família Artur Kestering. Siderópolis, SC.
[15] Depoimento de Mário Piacentini, em 3 jul. 2013. Morador da
localidade de Santa Cruz - Treviso, SC.
[16] Depoimento de José Geraldo Cardoso de Bitencourt, em 4 jul. 2013.
Criciúma, SC. Zé Geraldo, como era conhecido, foi funcionário da CSN e importante
músico da Banda American Night em
Siderópolis, SC.
[17] Depoimento de Lúcio Ubialli, em 20 agos. 2013. Criciúma, SC. Lúcio
Ubialli foi prefeito do município de Siderópolis no período de 1º jan. 1993 a
31 dez. 1996.
[18] Depoimento de Gladys Lenuzia Kestering, em 28 jun. 2013. Criciúma,
SC.
[19] Escrivania de Paz de Siderópolis. Registro Civil das Pessoas
Naturais. Certidão de óbito de 15 jun. 2013. Siderópolis, SC.