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Um pouco da história do túnel de Siderópolis

Foto da inauguração do TÚNEL, com 388 metros de comprimento, num corte feito entre o morro entre Santa Luzia e Ex-Patrimônio. O Túnel foi inaugurado em 1944, para  facilitar o trajeto do trem na Estrada de Ferro Tereza Cristina em Siderópolis, construído pela Cia. Construtora e Importadora Brasília Ltda. – SOCIMBRA, do Rio de Janeiro.

A empresa contratada para a construção do túnel e da estrada de ferra, chamada antes de Segunda Guerra de Dona Bela Portela, depois Sociedade Construtora e Importadora Brasília Ltda. - (Socimbra), realizava obras no Rio Grande  do Sul e trouxe de lá seus empregados, na sua maioria, paulista e mineiros sem família, sem raízes em nenhum lugar, que lutavam para sobreviver e nessa luta tinham se tornado mais duros, na maioria das vezes nem documentos tinham. Pessoas acostumadas a viver ao sabor do vento e se surgisse uma briga, era com eles. Eram pessoas que segundo relatos, vinham de prisões, de locais distantes com costumes muito diferentes e por isso julgados e concebidos como malfeitores e perigosos, pessoas capazes de qualquer ato. A maioria deles era de raça negra, alguns com sotaque nordestino ou do interior paulista e isto era certa novidade para os colonos instalados em Nova Belluno, atual Siderópolis. Talvez essa fosse uma das razões da desconfiança das pessoas quando não conhecemos optamos por se reservar o direito de ficar no seu canto, meio desconfiado, até sentir que pode haver aproximação, até sentir que não é perigosa essa aproximação. E foram essas pessoas que praticamente invadiram Belluno. Mas o tempo mostrou que os moradores tinham certa razão uma vez que ficamos sabendo de alguns casos de brigas em que pessoas foram mortas com facas ou revólver em brigas de bar.
Sr. Alberto Brunel, um dos poucos que trabalharam no túnel veio para esse local com a Companhia, pois estava trabalhando  no Rio Grande do Sul. Segundo Sr. Alberto, a empreiteira Socimbra trouxe os trabalhadores para a região, e eles instalaram-se em acampamento no alto do morro, onde hoje nesse local funciona o Hospital São  Lucas. As pessoas iam chegando de vários lugares procurando emprego e iam ficando. Pessoas de todo tipo e raça. Isso deixava os moradores de Belluno com muito medo, pois aos sábados eles desciam para o pequeno centro, bebiam e brigavam, fazendo com que os moradores procurassem não se “misturar”.
Para os moradores, essas pessoas eram mal-encaradas e ofereciam perigos. Aos sábados, as duas únicas “vendas” dos senhores Jerônimo Cesa e João Cesa fechavam suas portas com receio das brigas armadas pelos bagunceiros depois da bebida. As pessoas do local, colonos, trancavam as casas e ninguém saía. Toda uma estrutura familiar ficou ameaçada pelo medo de pessoas desconhecidas e que não inspiravam confiança, segundo eles. As crianças e as mulheres tinham muito medo dos “homens do túnel” e por isso preferiam nem sair à rua, principalmente aos sábados e domingos. Era comum o capataz andar armado com um revólver 38.
Segundo Sr. Alberto Brunel, das pessoas que trabalharam na construção do túnel, são poucos os que estão vivos para lembrar. Foram dois anos de muito trabalho para abrir um espaço no interior da montanha pra passar os trilhos, eram 388,45 metros escavados e escorados com madeira e a precária tecnologia da época, aliado, segundo ele ao pouco conhecimento de alguns capatazes, causou um acidente onde morreram duas pessoas. Para ele, o único acidente com morte, além do assassinato de um peão e como este não tinha documentos, foi enterrado como indigente, o cozinheiro fugiu e o assunto foi dado por encerrado pela polícia de Criciúma.
Mas as maiores brigas aconteciam quando os animais da companhia, cavalos e mulas que eram usados para carregar as pedras invadiam as roças e arrasavam a plantação. Segundo os relatos, toda a terra e pedra retirada do local onde estava sendo construído o túnel eram carregadas em galeotas puxadas por burros, e quando chegava ao fim de semana, esses animais eram soltos nas roças dos colonos, destruindo a plantação de feijão, milho e outras culturas.
Hoje o povo conta muitas coisas sobre a época da construção do túnel, ficaram várias histórias que servem para ilustrar essa parte da história de Siderópolis e Mineração:

“As lendas mais narradas são dos índios que morreram durante a construção do túnel. Eles viviam no alto do morro, na mata virgem e foram assassinados pelos mal encarados. Se perguntar a qualquer criança, a história que eles mais gostam é a da foto de um homem sem cabeça, que foi tirada no local. O homem seria uma alma viva daqueles que morreram nos arredores do túnel, Sangue era visto, ao invés da água que corre continuamente em meio às pedras de cimento. Os únicos que se aproveitam dessas histórias são os marginais e viciados que usam o local para passar a noite usando drogas” (Tribuna do Dia; 28/08/01; 05).

Para o Sr. Alberto Bunel “é tudo mentira, eu levei 50 dias cortando mata virgem e o único ser vivo que encontrei foi tatu”.
De uma foram ou de outra, foram levas de pessoas de vários lugares, mas principalmente do Rio Grande do Sul que vinham para trabalhar também nas minas. Faltava mão-de-obra em Belluno. Treviso e arredores e com os jornais noticiando vagas na extração de carvão, centenas de pessoas se deslocaram para os locais das minas e contribuindo para a radical transformação ocorrida na região da então Nova Belluno.


Texto: Rogério Dalsasso - Bacharel em Direito, Historiador.