A
empresa contratada para a construção do túnel e da estrada de ferra, chamada
antes de Segunda Guerra de Dona Bela Portela, depois Sociedade Construtora e
Importadora Brasília Ltda. - (Socimbra), realizava obras no Rio Grande do Sul e trouxe de lá seus empregados, na sua
maioria, paulista e mineiros sem família, sem raízes em nenhum lugar, que
lutavam para sobreviver e nessa luta tinham se tornado mais duros, na maioria
das vezes nem documentos tinham. Pessoas acostumadas a viver ao sabor do vento
e se surgisse uma briga, era com eles. Eram pessoas que segundo relatos, vinham
de prisões, de locais distantes com costumes muito diferentes e por isso
julgados e concebidos como malfeitores e perigosos, pessoas capazes de qualquer
ato. A maioria deles era de raça negra, alguns com sotaque nordestino ou do
interior paulista e isto era certa novidade para os colonos instalados em Nova Belluno , atual
Siderópolis. Talvez essa fosse uma das razões da desconfiança das pessoas
quando não conhecemos optamos por se reservar o direito de ficar no seu canto,
meio desconfiado, até sentir que pode haver aproximação, até sentir que não é perigosa
essa aproximação. E foram essas pessoas que praticamente invadiram Belluno. Mas
o tempo mostrou que os moradores tinham certa razão uma vez que ficamos sabendo
de alguns casos de brigas em que pessoas foram mortas com facas ou revólver em
brigas de bar.
Sr.
Alberto Brunel, um dos poucos que trabalharam no túnel veio para esse local com
a Companhia, pois estava trabalhando no
Rio Grande do Sul. Segundo Sr. Alberto, a empreiteira Socimbra trouxe os
trabalhadores para a região, e eles instalaram-se em acampamento no alto do
morro, onde hoje nesse local funciona o Hospital São Lucas. As pessoas iam chegando de vários
lugares procurando emprego e iam ficando. Pessoas de todo tipo e raça. Isso
deixava os moradores de Belluno com muito medo, pois aos sábados eles desciam
para o pequeno centro, bebiam e brigavam, fazendo com que os moradores
procurassem não se “misturar”.
Para
os moradores, essas pessoas eram mal-encaradas e ofereciam perigos. Aos sábados,
as duas únicas “vendas” dos senhores Jerônimo Cesa e João Cesa fechavam suas
portas com receio das brigas armadas pelos bagunceiros depois da bebida. As
pessoas do local, colonos, trancavam as casas e ninguém saía. Toda uma estrutura
familiar ficou ameaçada pelo medo de pessoas desconhecidas e que não inspiravam
confiança, segundo eles. As crianças e as mulheres tinham muito medo dos
“homens do túnel” e por isso preferiam nem sair à rua, principalmente aos
sábados e domingos. Era comum o capataz andar armado com um revólver 38.
Segundo
Sr. Alberto Brunel, das pessoas que trabalharam na construção do túnel, são
poucos os que estão vivos para lembrar. Foram dois anos de muito trabalho para
abrir um espaço no interior da montanha pra passar os trilhos, eram 388,45 metros
escavados e escorados com madeira e a precária tecnologia da época, aliado,
segundo ele ao pouco conhecimento de alguns capatazes, causou um acidente onde
morreram duas pessoas. Para ele, o único acidente com morte, além do
assassinato de um peão e como este não tinha documentos, foi enterrado como
indigente, o cozinheiro fugiu e o assunto foi dado por encerrado pela polícia
de Criciúma.
Mas
as maiores brigas aconteciam quando os animais da companhia, cavalos e mulas
que eram usados para carregar as pedras invadiam as roças e arrasavam a
plantação. Segundo os relatos, toda a terra e pedra retirada do local onde
estava sendo construído o túnel eram carregadas em galeotas puxadas por burros,
e quando chegava ao fim de semana, esses animais eram soltos nas roças dos
colonos, destruindo a plantação de feijão, milho e outras culturas.
Hoje
o povo conta muitas coisas sobre a época da construção do túnel, ficaram várias
histórias que servem para ilustrar essa parte da história de Siderópolis e
Mineração:
“As
lendas mais narradas são dos índios que morreram durante a construção do túnel.
Eles viviam no alto do morro, na mata virgem e foram assassinados pelos mal
encarados. Se perguntar a qualquer criança, a história que eles mais gostam é a
da foto de um homem sem cabeça, que foi tirada no local. O homem seria uma alma
viva daqueles que morreram nos arredores do túnel, Sangue era visto, ao invés
da água que corre continuamente em meio às pedras de cimento. Os únicos que se
aproveitam dessas histórias são os marginais e viciados que usam o local para
passar a noite usando drogas”
(Tribuna do Dia; 28/08/01; 05).
Para
o Sr. Alberto Bunel “é tudo mentira, eu
levei 50 dias cortando mata virgem e o único ser vivo que encontrei foi tatu”.
De
uma foram ou de outra, foram levas de pessoas de vários lugares, mas
principalmente do Rio Grande do Sul que vinham para trabalhar também nas minas.
Faltava mão-de-obra em
Belluno. Treviso e arredores e com os jornais noticiando
vagas na extração de carvão, centenas de pessoas se deslocaram para os locais
das minas e contribuindo para a radical transformação ocorrida na região da
então Nova Belluno.
Texto:
Rogério Dalsasso - Bacharel em Direito, Historiador.