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A origem do imortal ITAÚNA ATLÉTICO CLUBE


Por Ronaldo David

Com a intensificação das contratações de funcionários para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com sua instalação em Rio Fiorita a partir de 1942, e com a exploração do carvão a partir de 1943, a direção da estatal procurou fornecer meios de lazer e diversão aos trabalhadores. Uma das formas foi apoiar a estruturação de equipes de futebol, e assim surgiram cinco delas, como formato de clubes reacreativos, com sedes onde se reuniam e praticavam dança ou jogos.

As equipes e clubes formados na comunidade eram SOCIEDADE RECREATIVA UNIÃO MINEIRA, GRÊMIO ESPORTIVO VERA CRUZ, SUL CATARINENSE FUTEBOL CLUBE, ATLÉTICO CLUBE SIDERÚRGICA (2) e SIDER CLUB SIDERÓPOLIS (3), todos com a diretoria composta por empregados da Companhia Siderúrgica Nacional, e que recebiam verba de manutenção da CSN. Roseli Terezinha Bernardo e Alcides Martins citam estas equipes (4)(5). Os atletas poderiam ser da comunidade, sem a necessidade de serem trabalhadores ligados à estatal, embora a maioria o fosse. Todos os clubes foram fundados entre 1945 e 1946
O mais bem estruturado era o SIDERÚRGICA. Entre seus dirigentes estavam Oscar Roberg (NA. A grafia original é esta) e Domingos Damásio, funcionários da CSN. Já o UNIÃO MINEIRA  representava os funcionários da etnia negra, e era formado quase exclusivamente por mineiros. Em pouco tempo, as outras equipes acabaram por unir-se em outro clube desportivo, o GRÊMIO ESPORTIVO MACEDO SOARES, em homenagem ao então presidente da CSN, baseado em Volta Redonda, para que a rivalidade fosse menos repartida e houvesse melhor administração das equipes (6).
O G. E. MACEDO SOARES  despontou como força do futebol na região, tendo sua inscrição aceita na LARM – Liga Atlética da Região Mineira em 1947, assim como o A. C. SIDERÚRGICA. Para uma ideia do potencial desportivo do MACEDO SOARES, quando o recém fundado COMERCIÁRIO ESPORTE CLUBE, de Criciúma, procurou uma equipe fora dos limites de sua cidade pela primeira vez, já que somente atuara contra equipes criciumenses, como o SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE  e o ATLÉTICO OPERÁRIO, escolheu a equipe do Rio Fiorita para o seu primeiro amistoso intermunicipal. E em todos os livros que mencionam o fato, há o relato que a equipe que depois se tornaria o CRICIÚMA ESPORTE CLUBE ficou entusiasmada por ter empatado o jogo em 1 x 1, o que para seus atletas e diretoria foi uma honra. Nota-se aí referência elogiosa ao futebol jogado pelo MACEDO SOARES (7).
Em 8 de fevereiro de 1948, em Torneio Início “Troféu Santa Terezinha” promovido pela LARM e acontecido em Siderópolis, o COMERCIÁRIO seria campeão pela primeira vez, derrotando o SIDERÚRGICA na decisão por 2x1, mais uma vez destacando-se o futebol das equipes do Rio Fiorita e ligadas à CSN. 
Em 1951, cada vez mais forte e sendo campeão várias vezes nos certames promovidos pela CSN na comunidade, o ATLÉTICO CLUBE SIDERÚRGICA foi convidado e fez parte do 1º ÁLBUM “BALAS ESPORTIVAS” – CRAQUES DA L.T.D. E L.A.R.M. DO CAMPEONATO DE 1951, de figurinhas de atletas de equipes de futebol do sul catarinense, destacando-se neles as equipes inscritas na LARM e na Liga Tubaronense de Desportos (LTD) (capa abaixo). Foi um sucesso de vendas e apelo popular, o que seria mais tarde repetido, com o segundo, editado em 1962 (8).

No citado álbum da LARM e da LTD, a escalação dos atletas do SIDERÚRGICA é a seguinte, com os seus números nas figurinhas (os retratos dos jogadores na página do álbum, estão abaixo do título do artigo):
- o goleiro MILTON (166),
- os zagueiros LINDOMAR (167), NILTON (169), ALDO SILVEIRA (170) e DEGO (172),
- os médios CICÍLIO (168),  JANGA (171)  e AMÂNCIO (173),
- os atacantes BILIERI(174) , ANDORINHA (175) e HILÁRIO (176) (9).
Importante destacar que havia figurinhas com maior dificuldade para serem colecionadas, as chamadas “carimbadas”, dos considerados melhores atletas de cada equipe. O atleta escolhido do SIDERÚRGICA foi ANDORINHA, a “figurinha difícil” 175 (NA. O carimbo aparece sobre a figurinha).
No mencionado Campeonato de 1951 da LARM, o SIDERÚRGICA participou com a presença de alguns atletas do MACEDO SOARES – que fora extinto - como JANGA, DEGO e MILTON, ficando em 3º lugar entre as 13 equipes, após o Comérciário, tricampeão, e o Atlético Operário, vice.
Em novembro de 1952, após algumas reuniões, sua diretoria, a partir de sugestão do engenheiro MOZART VIEIRA, que era de Minas Gerais, resolveu mudar o nome da equipe para ITAÚNA ATLÉTICO CLUBE, como referência ao produto mineral símbolo da exploração promovida pela estatal, já que “carvão”, em tupi guarani, significa “ita” (pedra) e “una” (preta), e com as cores do uniforme em “azul-e-branco” (10).
O novo clube desportivo foi fundado em 4 de dezembro de 1952, data comemorativa da padroeira dos mineiros, Santa Bárbara, em reunião em que foi desencadeada também a instituição do “RECREIO DO TRABALHADOR”, com sua construção a ser efetuada em antiga mina numa colina próxima à estrada para a comunidade do Montanhão. Como presidente do clube desportivo foi aclamado o engenheiro HARRO STAMM. Do Recreio seria GILSON MARTINS. Em uma das salas do clube social, o ITAÚNA, a partir de 1955, teria local de reuniões e de troféus, inclusive alguns ligados ao SIDERÚRGICA (11).
Sabe-se que o “Recreio do Trabalhador” teve sua fundação registrada em ata, como instituição, em 4 de dezembro de 1952, mas sem o início de construção oficial, o que somente se daria quase um ano após, em 4 de novembro de 1953, concomitantemente à do edifício do mesmo nome no então distrito de Capivari, do município de Tubarão, onde estava instalado o outro braço produtivo da Companhia Siderúrgica Nacional (12).
O Recreio do Trabalhador, imponente e de arquitetura belíssima, destacando-se em um promontório defronte a um trecho da estrada de ferro que dividia o Rio Fiorita, foi inaugurado em 19 de outubro de 1955, um dia após o de Capivari, com a presença de diretores da CSN do Rio de Janeiro (13).  Houve bênção religiosa nos dois clubes e apresentações dos artistas IVON CÚRI e DERCY GONÇALVES (14).
Consta na Ata de fundação do Clube, como instituição social, que seu ideário foi solicitação dos funcionários da estatal federal, que centralizasse aspectos esportivos, sociais e culturais que já eram realizados em pequenos salões de forma insatisfatória, e que pudesse “...oferecer aos seus associados tudo aquilo que é indispensável neste setor da vida, especialmente na cidade de Siderópolis” (15).
A declaração inserida no Livro Ata seria uma forma de mencionar que, com a inauguração do Recreio do Trabalhador, este seria a maior instituição do então Distrito do município de Urussanga, e situado em Rio Fiorita, o que enfatizaria já uma rivalidade existente entre os dois núcleos populacionais, ou seja, entre a ainda intitulada “Belluno” e o Rio Fiorita, e que seria exercida de forma mais intensa com os embates entre o GRÊMIO ESPORTIVO TREVISO e o ITAÚNA, no famoso “Clássico da Montanha” (16).
Nesta sua estruturação e início de atividades, a partir da extinção do SIDERÚRGICA, a diretoria do ITAÚNA ATLÉTICO CLUBE utilizou-se de uma verdadeira escolha dos melhores atletas das outras equipes, que foram convidados a saírem de seus clubes, com possibilidade de serem contratados também pela Estatal, o que aconteceu com vários deles, em uma verdadeira cooptação futebolística.
Desta forma, chegaram ao Rio Fiorita para somarem-se aos atletas do extinto SIDERÚRGICA, para a formação do novo, forte e iniciante ITAÚNA, os seguintes futebolistas, cuja maioria, interessante frisar, após abandonar o futebol, fixou-se em Rio Fiorita até a aposentadoria na empresa:
BIRÓIDE, do Atlético Operário Futebol Clube (Criciúma);
BIGUÁ, do Barriga Verde Futebol Clube (Laguna);
APOLINÁRIO, do Cerâmica Futebol Clube (Vila Nova - Imbituba);
CAMBOTA, do Esporte Clube Guatá (Guatá-Lauro Müller);
ALDO NASCIMENTO, do Esporte Clube Próspera (Criciúma);
GEOPAR, do Imbituba Atlético  Clube, da mesma cidade;
CARIOCA, da mesma equipe;
FRESSINHA, do Urussanga Futebol Clube, da mesma cidade;
BEPA, da mesma equipe e
ZANELATTO, da mesma equipe (17).
Estes jogadores, com vários remanescentes do SIDERÚRGICA, formaram o ITAÚNA que participou do seguinte Campeonato da LARM de 1953 e seria campeão em 1956 e várias vezes até os anos 70. Era um período em que os jogos aconteciam com as equipes desdobrando-se muito, havendo muitas contusões nos jogadores e assim os reservas eram importantes para substituírem os titulares nas partidas seguintes, já que – detalhe importante – naquele tempo não havia substituição de jogadores durante as partidas. 
Com as contratações que realizou e ainda faria depois, nos anos seguintes, o ITAÚNA ATLÉTICO CLUBE, naqueles anos iniciais, possuiu um excelente plantel de jogadores, preparados para enfrentar os maiores adversários, e mesmo asism muitos atuaram por largo tempo, como os laterais ALDO SILVEIRA e ALDO NASCIMENTO e os zagueiros DEGO e BIRÓIDE, todos considerados entre os melhores jogadores do Estado, não somente da região carbonífera, que no início dos anos 60 ainda envergavam com orgulho o azul-e-branco da equipe do Rio Fiorita.

REFERÊNCIAS/NOTAS

1 – Dedico este artigo a todos aqueles que fizeram parte da grande família dos atletas do grande ITAÚNA ATLÉTICO CLUBE, às famílias de Aldo Nascimento, de Dego Pereira e Biróide Silva; ao craque Aldo Silveira, aos amigos Lúcio Flávio da Luz, Murilo Mendes e Jair Cardoso; ao padrinho Walter Cardoso; ao pesquisador Nilso Dassi (que mantém o Grêmio Esportivo Treviso em sua mente); à família do 1º prefeito eleito de Siderópolis, Manoel Minelvina Garcia (in memoriam), agora merecidamente contemplado pela Câmara Municipal com seu nome encimando uma via pública desta terra, e à toda minha família.
2 – O álbum de figurinhas citado no texto, e do qual faz parte esta página com os craques do ATLÉTICO CLUBE SIDERÚRGICA e a da sua capa, faz parte do acervo do autor.
3 – Em homenagem ao já criado Distrito de Siderópolis, de 1943, uma imposição do governo Vargas, a partir da presença na CSN, em detrimento do antigo distrito de Nova Belluno. Raulino Cesa, ex-prefeito de Siderópolis, fez parte da equipe quando jovem atleta.
4 - BERNARDO, Roseli Terezinha. Recreio do Trabalhador: um patrimônio histórico. Monografia de especialização. Criciúma: UNESC, 2005, p. 33.
5 - MARTINS, Alcides. Ex-funcionário da CSN. Reside em Içara/SC. Entrevista em Siderópolis/SC, 18/08/2011.
6 – O presidente da CSN, à época, era Edmundo Macedo Soares e Silva.
7 – COIMBRA, David. O Futebol da Região Mineira. Criciúma: JM, 1987, p. 41.
8 – Acervo do autor.
9 -  Na legenda da figurinha do atleta, há um erro – está escrito HALÁRIO e não HILÁRIO.
10 - DAVID, Ronaldo. Rio Fiorita: Estado de Espírito II – a presença da CSN – 1941-1979. Siderópolis:  2012 – no prelo.
DAVID, Ruthe Maria Clarindo. Residiu em Rio Fiorita entre 1955 e 1979. Reside em Imbituba/SC. Entrevista em 26/04/2012.
11 – Hoje desaparecidos, após desastrada exploração do local na atual administração municipal, com a depredação do clube em todas as suas dependências, e em que até a mesa de sinuca foi vendida a particulares.
12 -  13 - PATRÍCIA LAVINA BRUNATTO. Funcionária do Fórum de Capivari de Baixo, instalado no antigo Recreio do Trabalhador. Entrevista em 22/10/2012.
14 -  DAVID, Ronaldo. Rio Fiorita: Estado de Espírito II – a presença da CSN – 1941-1979. Siderópolis:  2012 – no prelo.
15 - BERNARDO, Roseli Terezinha. Recreio do Trabalhador: um patrimônio histórico. Monografia de especialização. Criciúma: UNESC, 2005, p. 33.
16 - DAVID, Ruthe Maria Clarindo. Residiu em Rio Fiorita entre 1955 e 1979. Reside em Imbituba/SC. Entrevista em 26/04/2012.
17 - DAVID, Ronaldo. Rio Fiorita: Estado de Espírito II – a presença da CSN – 1941-1979. Siderópolis:  2012 – no prelo.